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Opinião
Terça - 06 de Dezembro de 2022 às 06:44
Por: Onofre Ribeiro

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Fenômenos sociais novos são de difícil compreensão imediata. Estou falando das manifestações populares nas ruas a partir de 2013. Seguiram-se 2016 no impeachment de Dilma Rousseff, depois na época dos caminhoneiros que paralisaram o país por 10 dias em 2016, durante o governo Michel Temer. Houve grande desabastecimento no país inteiro,

Em 2019, 2020, 2021 e 2022 houve grandes manifestações de pessoas nos dias 7 de setembro. Em todo o país. O ponto comum entre todas essas manifestações populares foi o desconhecimento e a desqualificação pela mídia e pelos governos.

Sempre se tentou aplicar o rótulo de baderna. Chegamos a 2022. No dia seguinte ao resultado da eleição presidencial, o país amanheceu com os caminheiros paralisando e bloqueando rodovias em todo o país.

A mídia nacional ignorou os movimentos. Ou, quando registrou, anotou como baderna ou movimentos antidemocráticos. Os caminhoneiros continuam mobilizados e dispostos a voltar às rodovias paralisando o transporte terrestre que abastece o país. Já multidões estão há 36 dias acampadas em frente a quartéis do Exército.


Pode ser que no começo a movimentação dos caminhoneiros e dos populares tenha sido um movimento pró-Bolsonaro. Hoje não é mais. Está muito fragmentado. São muitas as reivindicações e as razões para os protestos são muitas.

Aqui vem a justificativa deste artigo, numa observação crítica e distante das motivações políticas. Apenas o registro dos movimentos continuados de gente na rua.

Em 1984, os grandes comícios em favor da emenda das Diretas-Já, criaram uma força popular que antecipou o fim do regime militar de 21 anos. Naquele momento o governo possuía todo o poder sobre a mídia brasileira. Mas não evitou tudo o que aconteceu. O impeachment de Dilma Rousseff só foi possível graças à pressão popular nas ruas em imensos e sucessivos comícios. Só consultar a mídia da época no Google.

Neste momento a força do povo na rua está mudando radicalmente uma das ditaduras islâmicas mais duras do planeta: a do Irã. Costumes como o uso do véu para as mulheres está caindo. Liberalização de papéis das mulheres antes considerados impossíveis estão acontecendo no Irã, e logo no Oriente Médio inteiro. A partir de 2010 o movimento chamado de Primavera Árabe derrubou o governo no Egito e de diversos países islâmicos.

Voltando aos movimentos populares no Brasil. A persistência de mais de 30 dias acampados na frente dos quarteis é mais do que uma emoção de momento de milhares de populares vestidos com camiseta amarela.

Sem lideranças formais acabam sendo movimentos dignos de estudos, sob pena de se perder um momento importante da História brasileira. Não quero neste artigo politizar o movimento.

Quero apenas registrar que está acontecendo um fenômeno social relevante de milhares de pessoas e milhares de caminhoneiros insatisfeitos com uma grande quantidade de questões nacionais.

Vão da eleição, do apoio ao presidente Bolsonaro, à corrupção, ao Congresso Nacional e aos impostos alto, e mais uma série de outros questionamentos. Politizar como apenas um movimento pró-bolsonarista é minimizar demais uma coisa que é muito maior.

Quanto mais se tentar desqualificar os fatos, mais eles crescem numa população muito machucada pela pandemia do corona vírus, pelas péssimas gestões públicas, pela péssima política brasileira, pelos péssimos políticos, etc.etc.

Não estamos diante de uma aventura nas ruas. É assunto pros políticos estudarem, pros sociológicos compreenderem e pra ensinar aos partidos políticos que o país é vivo e tem muitas complexidades. A mais difícil delas é lidar com uma população insatisfeita.

É ótimo tudo o que está acontecendo! Serve pra educar a cidadania. O futuro nos mostrará em breve!

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.



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