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Opinião
Domingo - 11 de Dezembro de 2022 às 07:50
Por: Neila Barreto

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A água é um bem que garante a vida, seja por meio da sua importância na produção de alimentos, seja na geração de energia e de riquezas, no desdobramento químico, no abastecimento público das cidades, na saúde por meio de sua influência no clima, na navegação, além de garantir a preservação e a transformação dos reinos animal, vegetal e mineral.

Mato Grosso é um dos estados do Brasil melhor privilegiado com relação a este líquido, seja pela abundância das suas bacias fluviais amazônica e platina, seja pelas quase inesgotáveis reservas de águas subterrâneas. Mas, por outro lado, a população cuiabana enfrentou pesadelos em sua conquista em função da formação de ambientes urbanos, com o adensamento de população e de atividades como açougues, curtumes, fornos de cal, azougue usado em mineração ou fundição, sementes de algodão e cascas de arroz, ausência de esgotos, diário despejo de dejetos em córregos e rios e, enfim, lavagem de roupas, inclusive de doentes e banhos no rio, tudo isso contribuía para prejudicar a qualidade das águas potáveis e fluviais de Cuiabá.

Na capital procedeu-anterior ao ano de 1790, o desejo de algumas autoridades provinciais em dotar a Vila de um sistema de abastecimento público de água potável por meio de um valo do córrego Motuca até o Jacé, região hoje do CPA. •Das fontes de abastecimento de água de Cuiabá, a mais antiga, ou pelo menos aquela a que mais referência possui é o Chafariz do Rosário concluído em 1790, no Governo do Capitão General João de Albuquerque, possivelmente um sonho da população cuiabana conseguido sob pressão popular. Esse sonho ficou registrado nos Anais da Câmara da Vila Real, em relato referente ao ano de 1790:

Por volta de 1817, o governador e capitão-general João Carlos Augusto de Oeynhausen Gravenburg, depois Marquês de Aracati, reassumiu o projeto de canalização das águas do Mutuca, não mais apenas para lavagens de mineração no Jacé, hoje nas proximidades do bairro Carumbé.

Outro pesadelo na cidade de Cuiabá eram os pontos de concentração de pessoas, fontes e chafarizes de água potável, os quais foram pontos urbanos sempre atentamente vigiados – um olhar sobre os Códigos de Postura do século XIX: A recorrência das preocupações camarárias com a preservação da água potável manteve-se até fins do século XIX: Nesses lugares de água sempre estavam acontecendo atos que mereciam a vigilância de autoridades: Na cadeia da cidade, ainda situada no Largo da Matriz, prisioneiras passavam sede: “Na prisão de mulheres (...) só existe um Pote para água, por isso sofrem por muitas horas sede e falta para fazerem comidas. ”.

Entre os anos de 1858 e 1863, o Arsenal de Guerra de Cuiabá distribuía água potável em vários pontos da cidade, como nas escolas públicas da cidade, no 2° Batalhão de Artilharia, na cadeia, no hospital militar, no Quartel da Companhia de Caçadores, por vezes utilizando o trabalho de condenados a galés no transporte do líquido. A seca de 1863 “reduziu as fontes desta capital a ponto de inteira desaparição de água em umas e a quase a extinção dela em outras”.

Pressionado pela população, o presidente da Província tomou a decisão de construir um açude próximo à igreja do Rosário, mais conhecido como Tanque do Bahú, para suprir as necessidades de água potável. A Cacimba do Soldado, nativa no terreno da chácara de tia Amélia Vinagre na antiga Praça Santa Rita e atual Praça Rachid Jaudy, era uma fonte natural que formava um lago na Rua Barão de Melgaço, antiga Rua do Campo. Em relatório da Câmara Municipal de Cuiabá dos anos de 1871 e 1872, a notícia é que o abastecimento de água potável continuava precário, com poucas fontes jorrando água, obrigando a população a penosas caminhadas até os rios Cuiabá e Coxipó para prover-se de água potável.

Em 1871 o governo provincial construiu “um reservatório d’água no antigo quintal do Maranhão”, bem como um aqueduto para alimentação do chafariz do largo da Conceição na Bispo Dom José, ou simplesmente Praça Bispo. Em maio do ano seguinte o governo assinou contrato com os empresários João Frick e Carlos Zanotta. Era um contrato de 180 contos de réis, que o governo deveria pagar “em cinco prestações iguais”.

Em abril de 1882 começaram as obras, “principiando os trabalhos com a escavação para o reservatório ao noroeste da Praça do Aracaty”. Em novembro desse ano as obras do novo projeto foram concluídas. O sistema público de abastecimento de água potável foi inaugurado em 30 de novembro de 1882. Além dos encanamentos previstos no contrato, Frick e Zanotta construíram a rede de abastecimento de água das Ruas: Barão de Melgaço, 27 de dezembro, Mandioca, Bela Vista, Capim Branco, Conde D’Eu, Antônio Maria, Travessas Ipiranga e São Gonçalo.

A partir de então, a concepção do ambiente urbano da cidade de Cuiabá, principalmente em seu centro, começava a ser marcada pelo abastecimento de água potável não mais brotando em fontes naturais, explícitas, mas serpenteando por canos de ferro ocultos, correndo caminhos produzidos industrialmente, por longos cilindros de metal escondidos sob a terra, parte invisível, para a maioria dos moradores da cidade, hoje transformados em equipamentos urbanos ocultos.

Neila Barreto é jornalista, mestre em História e membro da AML.



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