Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Quarta - 14 de Dezembro de 2022 às 08:29
Por: ONOFRE RIBEIRO

    Imprimir


Não é surpresa pra ninguém que a História do Brasil vive de soluços. Estamos no meio de um dos maiores soluços já vividos.

Entramos e saímos de uma eleição presidencial sem lenço e sem documento. Antes da eleição uma polarização imensa. No meio da eleição muito maior. E o pós-eleição ainda pior. Entramos divididos e saímos quase inimigos de nós mesmos.

Às vésperas do começo de um mandato de quatro anos do governo eleito, o Brasil não se pacificou e parece pouco disposto a amansar os ânimos exaltados.

De novo, preciso recorrer à História pra traçar um mínimo de racionalidade no raciocínio. Em 1955 foi eleito o presidente Juscelino Kubitschek para substituir Getúlio Vargas que se suicidara em 1954.

O país estava e profundo clima de crise interna. Dividido como agora. JK elegeu-se e duas tentativas de impedir a sua posse criaram um clima muito ruim na péssima política do país. Um major da Aeronáutica, tentou impedir em duas revoltas militares, uma em Aragarças (Goiás) e outra em Jacareacanga(Pará).

JK tomou posse assim mesmo, e anistiou os militares, pacificou aos poucos a política brasileira e terminou seu governo em paz. Foi um grande governo de paz e de alto desenvolvimento econômico. Seu sucessor, Jânio Quadros, foi eleito em paz em 1960. A anistia e um espírito pacificador bem ao estilo mineiro de fazer política JK modernizou o país e acalmou os ânimos nacionais.

É muito parecido com o que acontece neste momento. Eleito sob fortes contestações e polarização, Luís Inácio Lula da Silva não simboliza a paz neste momento.

A menos que faça como JK. Desça do pedestal da arrogância e do espírito de guerreiro e calce as sandálias da humildade, em busca da pacificação. Isso, se quiser governar e restaurar sua biografia manchada e contestada. JK elegeu-se com 36% dos votos, a menor votação de um presidente desde 1945 até 1960. Mas construiu a sua grandeza no espírito de pacificação.

Na prática de agora, Lula subirá a rampa do Palácio do Planalto com 60 milhões de votos alcançados na eleição de 2022, e 96 milhões que votaram no seu opositor Jair Bolsonaro ou não votaram. Votaram 58 milhões em Bolsonaro, e 38 milhões na votaram. Portanto, muito longe da unanimidade. Logo, ou pacifica ou não terá a paz pra governar. Simples assim.

Traduzindo, é de se esperar que Lula governe uma coalização ampla e geral, ou não terá paz pra governar. Até este momento, ele tem um discurso de pacificação e ações de polarização. JK não polarizou contra a poderosa imagem popular do Getúlio Vargas populista da década de 1950 e seu antecessor. Fez uma imagem pessoal de pacificador, de homem do progresso econômico e alavancador de uma poderosa força pro futuro. Deu certo. Se não fossem os militares teria sido eleito novamente em 1965. Foi cassado antes, justamente pra ser impedido de se candidatar.

Nunca um presidente se elegeu no Brasil com tamanha desconfiança nas costas como Lula: 96 milhões de eleitores vigiando todos os seus gestos. As ruas estão mobilizadas e um silêncio constrangedor no país inteiro. Isto é bom, se for entendido como pressão popular legítima. Será péssimo, se for considerado como oposição a combater.

Ninguém, nem Lula, resistirá à força das ruas brasileiras. As ruas sempre tem razão. E a palavra final!

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.



Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/4966/visualizar/