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Opinião
Segunda - 23 de Janeiro de 2023 às 06:46
Por: Renato Gomes Nery

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O livro Vidas Provisórias do Jornalista e escritor Edney Silvestre, Editora Intrínseca Ltda/2022, é uma grata surpresa para todos nós que estamos acostumados a vê-lo, com frequência, nas telas da TV.

Além de excelente jornalista é um escritor primoroso. O livro conta história de todos aqueles que não escolheram a estrada, mas foram lançados nela. Enfim os da equipe dos perdedores: os exilados.

Os que foram obrigados a abandonar o País onde nasceram por razões políticas, religiosas, econômicas, conflitos, raciais etc. Ressalte-se, no livro, as mulheres que, por falta de opção, no Brasil, foram se prostituir e limpar chão das casas americanas, numa vida sem horizontes e sem futuro.

“... dedico este livro a todos os que foram obrigados a deixar pra trás suas famílias e seus amigos, escorraçados de suas pátrias por conta de orientações políticas, religiosas, sexuais e raciais, assim como coagidos por pobreza, fome, desemprego e opressão econômica.

Minha solidariedade, também, as mulheres e aos homens que nunca mais puderam voltar ao país de origem, entrar em suas casas, atirar seus sapatos gastos pela longa caminhada, deitar-se, fechar os olhos e adormecer, sem medo”. (pag. 237).

É bom lembrar, neste tempo conturbado, que os regimes de força ameaçam ser instaurados e implantados em diversos países do mundo, certamente, sem tolerância, expulsarão grande parte dos contrários, pois são incapazes de acolher e dar abrigo a todos os filhos da pátria onde vicejam. Além de ser este um tempo de expatriação por causa de diversos conflitos regionais, em inúmeras partes do mundo.

Todos aqueles que são obrigados a partir vão ter em outro País uma vida provisória, pois o corpo foi, mas mente continua no porto da partida. Ninguém se cura do que ficou ou abraçará sem sequelas o que vai encontrar. Há sempre uma pendência (s), uma mágoa(s) e uma dor (s) a reparar.

O autor se envereda pelos tortuosos caminhos da tortura, onde o torturado nunca ficará livre do torturador que aprisionou a sua mente e o perseguirá pelo resto da vida.

O livro dar passeio pela nossa saborosa comida que os que se foram não conseguem esquecer, pois são obrigados a aprender outras línguas, se habituarem a outros costumes e nunca mais vão se fartar de um tutu de feijão, uma farofa de bananas, uma moqueca de peixe, uma ambrosia, uma goiabada cascão com muito queijo, como expressa a canção, e tantas outras iguarias da nossa rica culinária.

Enfim, o despatriado é um perdedor. Perdeu a sua pátria. Perdeu as suas raízes. Perdeu-se nas brumas de um futuro incerto e se apega a uma vida provisória de dores, inconsistências, medos, recordações e saudades.

Enfim, a vida é tênue, tênue..., como cunhou Drumond, mas é extremante penosa e cruel para quem foi lançado num mar de incertezas, sem esperanças de retorno.

Renato Gomes Nery é advogado.



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