O marco 14 de março A nossa política nasceu, cresceu e se desenvolveu na favela carioca
Todos os anos, no dia 14 de março, muitas reflexões acontecem, desde o ano de 2018. Preferíamos, com toda certeza, que não as tivéssemos, em troca de contar com a presença física de Marielle Franco.
Nascida no Rio de Janeiro, hoje mártir em prol dos direitos humanos, Marielle Francisco da Silva, foi assassinada cruelmente. Socióloga, ativista e vereadora à época da sua passagem, elegeu-se expressivamente com a quinta maior votação do Rio de Janeiro. Denunciou diversos casos de abuso de autoridade cometidos por policiais contra moradores e moradoras carentes do subúrbio.
A nossa política nasceu, cresceu e se desenvolveu na favela carioca do Complexo da Maré, e tinha imenso orgulho em se apresentar como “cria da Maré”.
Os estudos foram perseguidos por ela, que dos 11 aos 18 anos exerceu a função de vendedora ambulante juntamente com a mãe e o pai. Passou, então, a se dedicar ao magistério infantil. Se tornou mãe bastante jovem, aos 19 anos, na mesma época que passou a se dedicar para alcançar uma vaga no ensino superior.
No ano 2000, Marielle passa a se dedicar pelos direitos humanos, para se tornar referência, inclusive. A sua defesa de dissertação de mestrado pela Universidade Federal Fluminense foi intitulada: “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública no Estado do Rio de Janeiro.”
A verdade é que Marielle “tocou” em feridas expostas, mas que muitas pessoas não tinham coragem de verbalizar. Eleita vereadora em 2016 pelo Rio, promoveu os direitos humanos: presidiu a Comissão de Defesa da Mulher; integrou a comissão com o objetivo de monitorar a intervenção federal no Rio de Janeiro; criticou e denunciou continuamente abusos policiais e violações a direitos humanos; trabalhou na coleta de dados para a garantia do aborto legal; trabalhou pelo aumento da participação política feminina; regulou o serviço de mototáxi; regulou a Lei das Casas de Parto para realização dos partos normais; em suas propostas de lei pautava o apoio a mulheres, população LGBTQIAP+, negros e moradores e moradoras das favelas.
Além da vereadora e socióloga ter sido tão atuante como política, a sua carreira não passou de dois anos. Fico a pensar o que Marielle, se tivesse oportunidade de viver, se a deixassem com vida, faria com 7 mandatos de deputada federal...
E como presidenta da República, então? Elucubrações... É dela: “As rosas da resistência nascem no asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado falando de nossa existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas”
No dia fatídico, Marielle havia ido à Casa das Pretas para participar e mediar debate com jovens negras, aproximadamente, às 19 horas. Mais ou menos às 21 horas, ela deixa o local com uma assessora e o motorista. Meia hora após, um carro emparelha ao veículo em que ela se encontrava e dispara por treze vezes.
Ela foi atingida com três tiros na cabeça e um na nuca, que a levaram à morte. Na ocasião, o motorista dela também foi atingido e faleceu. O assassinato trouxe reações nacionais e internacionais de protesto.
Marielle expôs que as mulheres correm risco todos os dias e em todos os lugares. E mais, há potencialização dessa situação se elas decidam se mover em enfrentar os preconceitos a rondar a sociedade.
No dia Internacional das Mulheres deste ano, o presidente Lula fez o encaminhamento ao Congresso Nacional do projeto de lei para a criação do “Dia Marielle Franco”, a fim de que ocorra todo dia 14 de março, dia do seu assassinato. A data remete à violência política de gênero e raça, trazendo a problematização do verdadeiro local que as mulheres podem e devem estar, sempre.
Que venha a norma, pois é preciso. E que venham perguntas, com as respectivas respostas a antigos questionamentos quanto ao que as pessoas não somente podem ser, mas o que elas desejam ser, sem que haja interrupção dos seus sonhos, inclusive, transformados em pesadelos calados com assassinatos.
Revisitar a fala da ativista é imprescindível: “O mandato de uma mulher negra, favelada, periférica, precisa estar pautado junto aos movimentos sociais, junto à sociedade civil organizada, junto a quem está fazendo para nos fortalecer naquele lugar onde a gente objetivamente não se reconhece, não se encontra, não se vê.”
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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