Acham que mandam
Conversei demoradamente esta semana com o secretário da Casa Civil do Governo do Estado, José Lacerda. Ele discorda da minha leitura de que se está criando um consenso na sociedade que falta firmeza ao governador Silval Barbosa para conduzir a coalizão formada em torno de seu governo, o que o enfraquece como líder político, pela falta de autoridade. Na visão de Lacerda, Silval possui um ‘time’ político que o diferencia da maioria dos players locais, característica que foi fundamental na sua campanha, desde a viabilização da sua candidatura, e que vai fazer a diferença também no seu governo.
Segundo José Lacerda, ele próprio um perfil de político que paga um boi para não entrar numa briga e uma boiada para sair dela - no caso de esta ser inevitável -, as medidas saneadoras e estruturantes que o Governo Silval Barbosa está implementando exigem tempo e paciência, e os resultados aparecerão a médio e longo prazo.
Ele reconheceu que há uma certa agitação nos bastidores e na própria opinião pública, mas acredita que ela seria natural, porém transitória, e que as coisas se acalmariam significativamente quando as ações mais estruturantes começarem a surtir efeito.
Entre essas medidas, ele citou a reestruturação das carreiras do funcionalismo, segurança pública, reestruturação da dívida, copa do mundo, infra-estrutura, saúde e ação social.
Quanto a um dos temas introduzidos por mim no diálogo - a onda de greves no funcionalismo estadual -, o chefe da Casa Civil discordou de que falta interlocutor. Para sustentar, disse que o Estado está reestruturando todas as carreiras do funcionalismo, e que das mais de 20 categorias e carreiras distintas, falta ajustar a reestruturação de duas ou três, mas cujos processos de negociação estão em curso. Essa reestruturação, acredita ele, resolve o problema da recuperação do poder aquisitivo dos servidores para um prazo mais elástico, o que aliviaria esse tipo de pressão por vários anos, já que a recomposição anual para cada categoria está sendo amarrada em índices oficiais de inflação.
A saúde é outra aposta central do Governo Silval, revela José Lacerda. Silval espera que o modelo proposto por Pedro Henry de gestão compartilhada com as Organizações Sociais de Saúde (OSs), cuja primeira unidade entrará em funcionamento já na próxima semana, dê resultados muito significativos no curto prazo e em caráter mais perene.
Me contraditando em muitos momentos, José Lacerda acredita que por mais que possa parecer, o governo Silval deixará mais legados para Mato Grosso do que a Copa do Mundo. O evento, segundo ele, é fundamental e mobiliza muitos esforços nessa fase inicial do Governo, mas as ações que estão planejadas contemplariam o Estado como um todo. Para o chefe da Casa Civil, a marca principal de Silval, cujo governo teria começado em 2011 – já que em 2010 terminou a gestão iniciada por Blairo - será a de ter realizado “um governo humanista”.
Disse-lhe que a tolerância das ruas está se esgotando, e perguntei-lhe se não seria então uma falha não comunicar isso melhor com a sociedade, o que passaria inclusive por uma atuação mais ostensiva dele como porta-voz oficial do Governo em vez de ficar tão encolhido na Casa Civil, Lacerda disse que a discrição não foi planejada, mas natural, fruto da necessidade de se mergulhar nos projetos ditos estruturantes para fazê-los andar antes de propagá-los.
Num ponto da conversa concordamos: muitos dos problemas políticos que Silval enfrenta são naturais e típicos de um governo político, algo que foi retomado com sua eleição, já que o governo Blairo Maggi fazia um esforço incomum para se declarar não-político.
Coloquei na conversa o conceito que já desenvolvi em vários artigos anteriores, de que Silval precisa garantir que o centro de gravidade de seu governo seja ele próprio, e não os chamados “super-secretários” que forçam sua presença nas decisões palacianas, e que, na minha percepção, Silval não pode jogar como Peão nesse xadrez político, já que sua posição é a de Rei.
Quanto a isso, Lacerda enfatiza que o centro de gravidade do governo está sim em Silval e no vice, Chico Daltro, já que ambos construíram uma boa sinergia e se complementam, e deixou outras pistas que reputo importantes: o governador teria segurança plena nas apostas de seu governo, já teria iniciado um processo de mudança em peças-chave da correlação de forças interna da máquina estadual, e que os que mais acham que mandam no Governo são os que menos compreenderam esse ‘time’ (ou estilo) de Silval para tomar decisões e encaminhamentos.
Saí da conversa ainda suspeitando que algo não funciona bem na engrenagem de comando do Governo Silval. Mas, admito também que fiquei com uma sensação de que ao menos agora a Casa Civil possui alguém talhado para o cargo, depois de tantos experimentos desastrosos nos últimos oito anos, e que, se Lacerda estiver mesmo correto, muita gente que hoje acha que manda no Governo, em breve vai se decepcionar profundamente.
(*) KLEBER LIMA é jornalista, consultor de marketing e diretor do site HiperNoticias. E-mail: kleber@hipernoticias.com.br. Twitter: @kkleberlima.
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