Você já ouviu falar de câncer no intestino delgado?
Recentemente eu operei um paciente jovem com um adenocarcinoma de duodeno. A cirurgia foi muito interessante, uma vez que um câncer na região é extremamente raro. Representa cerca de 0,35% dos tumores malignos do trato gastrointestinal.
O câncer de intestino virou matéria em muitos veículos de comunicação depois da morte do Rei Pelé, que desenvolveu um câncer de cólon, conhecido como colorretal. A cantora Preta Gil também tem enfrentado a doença no aparelho digestivo, ocorrendo na região do intestino grosso que antecede o reto.
O câncer de intestino grosso consiste em um dos tipos de câncer mais recorrentes no Brasil, sendo ele o segundo tipo de câncer que mais atinge os brasileiros, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Por isso, quando se fala ou pesquisa sobre o câncer de intestino, são informações sobre o intestino grosso que são as referências.
Mas o fato é que o sistema digestório também é formado pelo intestino delgado, que é o órgão mais longo do trato digestivo, podendo atingir mais de até 5 metros de comprimento. O duodeno representa a primeira porção do intestino delgado, parte mais próxima que faz relação com o pâncreas. Mesmo sendo raro, a região pode desenvolver diversos tipos de tumores e o mais comum são os adenocarcinomas.
Os fatores de risco da doença se assemelham com as patologias no intestino grosso e incluem o tabagismo, etilismo, dietas ricas em carne vermelha e alimentos processados, obesidade, doença celíaca e algumas síndromes genéticas. A maior parte dos casos ocorre após os 60 anos de idade, mas isso não é regra, como observado no meu paciente ainda jovem.
Por ser de baixa incidência e ter sintomas iniciais muito inespecíficos, o que vemos é uma demora do paciente para procurar um médico especialista. Por isso, peço a você que observe e investigue sinais, como: dor abdominal, náuseas e vômitos, perda de apetite ou perda de peso, sangramento digestivo, sensação de massa palpável no abdome, urina escura e icterícia (amarelão) nos casos de tumores avançados do duodeno.
O diagnóstico desses tumores é feito por meio de endoscopia e exames de imagem, como tomografia e ressonância, após o diagnóstico é feito uma avaliação para ver se é uma doença estágio inicial ou avançado e depois é definido o tratamento. O tratamento definitivo é a cirurgia.
Neste caso que operei recentemente, realizamos uma cirurgia chamada Gastroduodenopancreatectomia (GDP), também conhecida como cirurgia de Whipple. O procedimento consiste na retirada parcial do estômago, todo o duodeno, parcialmente o pâncreas, o colédoco biliar e a vesícula e depois fazemos uma anastomose (emenda)de todos esses órgãos.
Essa é uma cirurgia complexa, muito difícil que leva várias horas, envolve uma equipe especializada de cirurgiões, anestesistas e unidade de terapia intensiva adequada, mas com o objetivo final de cura. Qualquer um dos sintomas referidos, ou mesmo alguma obstrução intestinal, procure de imediato um Cirurgia Oncológico.
Lucas Bertolin, Cirurgião Geral e Oncológico no Hospital de Câncer de Mato Grosso e Hospital Santa Luzia de Matupá.
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