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Opinião
Domingo - 30 de Abril de 2023 às 04:39
Por: Patricia Capitanio

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O endividamento atingiu quase 80% das famílias brasileiras no ano passado, conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A cada 100 famílias brasileiras, 78 estavam endividadas, o patamar mais elevado da série histórica iniciada em 2010. Diante desse cenário, precisamos urgentemente falar sobre dinheiro!

Apesar de ainda representar um tabu entre os brasileiros, é importante expandir a consciência financeira com o intuito primeiramente de desmistificar o dinheiro, que não é um “bicho de sete cabeças”. Além disso, é essencial que cada um de nós observe as verdadeiras motivações por trás da maneira como nos relacionamos com ele, pois pode ser algo que aprendemos na infância, por exemplo.

Como seus pais lidavam com o dinheiro? Vocês enfrentaram períodos de escassez? É muito comum entre os meus clientes comportamentos de autossabotagem decorrentes de experiências negativas do passado. Ao analisar os números de um deles, observei que mesmo morando sozinho sempre destinava valores exorbitantes no supermercado. Isso era uma ação inconsciente visando garantir “não passar mais fome”.

Outra cliente tinha gastos acima do normal no salão de beleza, toda semana ela precisava ir de duas a três vezes. Ao analisar, percebi que aquele gesto se tratava de uma carência emocional, pois era o momento que ela tinha para receber atenção e cuidados de forma integral. Com outra cliente, o excesso de sapatos escondia um trauma de infância: a vergonha de ter que ir para a escola de chinelo.


Acessar um novo estado de consciência nos permite não ser levados mais apenas pelas emoções (conscientes ou inconscientes). Nós saímos do piloto automático para reconhecer “porque agimos como agimos”. Esse ‘mindset’ ajuda a trilhar novos caminhos dentro do cérebro permitindo inclusive não ser mais alvo de publicidade, modismo e consumismo. Mas temos que pagar um preço: deixar de ser “imediatistas”.

Não dá mais para fazer escolhas baseadas em frases como “eu mereço” ou “só se vive uma vez”. Pergunte-se sempre: Eu preciso? Eu posso? Cabe no orçamento? Quais são as minhas prioridades? É importante destacar que, além de comprar coisas desnecessárias, comprometendo a realização de metas importantes, as consequências podem ser desastrosas: uso indevido do cartão de crédito, cheque especial e empréstimos com juros exorbitantes.

Ter consciência financeira é entender a nossa real situação, olhar para dentro de nós e enxergar o porquê de ações e comportamentos, saber o que nos influencia durante uma compra ou porque falhamos diante de um objetivo. Quem somos de verdade? O que nos motiva? A partir disso, fica mais fácil mapear quanto ganho e gasto, medir resultados, avaliar investimentos e tomar decisões mais seguras e rentáveis.

Sempre me questionam como fazer a mágica acontecer. Mas não existe mágica. Para chegar a um novo patamar, temos dois caminhos, um a partir do estudo e outro com as experiências passadas. “Pelo amor ou pela dor”, como a minha mãe dizia. Quem sofreu com uma crise geralmente não vai querer passar pela mesma situação e vai buscar meios de mudar o comportamento. Ainda assim, estudar é sempre importante para adquirir novos hábitos financeiros.

A transformação precisa ser vista como resultado de um processo, afinal, ninguém vai à academia apenas para "puxar peso", o objetivo é ter mais qualidade de vida e melhorar a saúde. O mesmo acontece com a organização financeira que vai permitir segurança, saúde e realização de sonhos. Fica bem mais fácil dizer "não" para pequenos gastos diários quando temos clareza que estamos abrindo mão de um prazer momentâneo por uma viagem à praia ou um carro novo!

Quais novos hábitos poderíamos incorporar que ajudariam a não comprar por impulso e com isso economizar? Podem ser coisas simples, como ir ao supermercado em datas específicas e não mais várias vezes na semana, fazer a lista de compras e checar exatamente quais produtos precisamos comprar, procurar opções de lazer mais em conta, preparar as refeições em casa, comprar roupas em brechó, entre outras soluções.

A inspiração geralmente vem de pessoas que já trilharam esse caminho e nos fornecem o mapa da mina. O livro mais antigo e famoso sobre finanças pessoais, O Homem mais rico da Babilônia, escrito por George Samuel Clason em 1926, ensina que “os desejos devem ser simples e definidos. Costumam malograr, porém, quando são muitos, confusos ou se acham além da capacidade de um homem realizá-los”. Vale a pena começar agora!

Patricia Capitanio é graduada em Ciências Contábeis.



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