Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Sábado - 03 de Junho de 2023 às 07:21
Por: Renato Gomes Nery

    Imprimir


No dia 27.05.2023, eu fui as homenagens que filhos, netos, bisnetos e trinetos prestaram aos 90 anos de idade a Dona Mãezinha. Ela tem o nome de princesa: Misblande Maria de Souza.

O seu nome significa algo de valor, atributo que a homenageada tem de sobra. E nela vou tentar prestar uma reverência a todos os anônimos do Brasil que, no seu mourejo diário e silencioso, são os responsáveis por levar este Brasil Varonil para frente.

Ninguém nunca lhes prestou atenção, pois a sua insignificância e pequenez não inspirou ninguém a lembrar da sua existência.

Entretanto, sem os celebrados, meu caro leitor, eu não estaria aqui grafando estas tortas e inóspitas linhas e nem você me lendo. São a clava forte que faz com que este País ande para frente.


Eles não reclamam só trabalham, enfrentando todos as vicissitudes de um País padrasto que sempre esteve à deriva e os olhou enviesado. Acreditam piamente em Deus, tem uma fé inabalável num futuro melhor.

Quem diria que uma mulher miúda, frágil, retirante de Palmeiras, no interior da Bahia, fosse uma visionária que passou a vida trabalhando diuturnamente atrás de máquina de costura, fazendo triunfar seu ofício ali, no início da Rua Cel. Escolástico - sem as vantagens de um emprego fixo - criaria e educaria uma descendência vencedora de mulheres e homens de bem.

Faço uma ressalva aqui a um equipamento que, desde sempre, foi um aliado da família brasileira: a máquina de costura que ajudou a levar o pão para tantos lares deste País de mulheres heroicas e fortes que nunca abandonaram o ringue e sempre estiveram prontas a começar ou recomeçar.

Quem esperaria que uma mulher tão fora do padrão dos vencedores, seria uma inspiração! Será que quando ela deu o primeiro passo, tinha noção de chegar aonde chegou?

Eu não saberia responder, mas creio que, se preciso fosse, ela começaria tudo outra vez, pois trata de uma sobrevivente que aprendeu, apesar dos percalços de uma vida difícil, a continuar lutando. Fez escola na arte de coser. Saíram das suas laboriosas e criativas mãos, os mais lindos, cobiçados e concorridos vestidos de noivas que vestiram muitas gerações de moças casadoiras deste Cuiabá de açúcar.

Aos 80 anos, ela aspirava chegar aos 90 e agora aos 90, ela quer chegar aos 100 anos! Vai chegar a muito mais, pois quem lhe move é a fé, a esperança e uma vontade de aço que será sempre o norte de sua família e de todos nós seus amigos que sempre convivemos com ela. Ressalto que convivo com ela, desde menino, numa pequena cidade do interior do Estado.

Neste País - onde as elites sempre foram predadoras e a emergente está isenta de contribuir com os cofres públicos e os aposentados são obrigados a ajoelharem e a rezar ante um Fisco Predador que insiste em explorá-los - a homenageada é um prodígio.

Para continuar aqui, no País da eterna esperança, só tem uma saída: ter uma fé induvidosa, a inspiração e a crença das pessoas humildes que, como a celebrada neste texto, acredita em Deus, no trabalho e num mundo melhor.

Que ela e, tantos outros da sua cepa, continuem a viver por muitos anos, pois sem a inspiração e o exemplo destas pessoas heroicas, vagaríamos no deserto e não chegaríamos a lugar nenhum. Creio que a resposta para todos os nossos males está no universo destas pessoas simples e humildes deste Brasil profundo e ignorado.

Renato Gomes Nery é advogado.



Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/5320/visualizar/