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Opinião
Segunda - 18 de Julho de 2011 às 00:21
Por: Lourembergue Alves

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 “Gente enriquece, enquanto as obras públicas se elevam de preços”. Frase que chegou recentemente a esta coluna. Provocante e instigadora. Sobretudo para quem se vale de um espaço privilegiado como este. O que não é ruim. Pois o faz alargar o olhar e aguça o senso crítico, e não demora muito para se ter uma opinião a respeito da estampa fotográfica de um Brasil que alguns teimam em jogar para debaixo do tapete, no mesmo instante em que outros fingem não vê-la. Afinal, balbuciam estes últimos, de nada vale as denúncias, tampouco as opiniões dos analistas. Isso porque coisa alguma acontece, e, por essa razão, ninguém vai parar na cadeia.  
 
Esta é uma “verdade doída”. Com exceção do governador-democrata de Brasília, não se tem outro exemplo de político ou apadrinhado de ocupantes de cargos eletivos que se encontra no “xilindró” por desviar dinheiro público. E não é por falta de provas do dito crime, nem em função da ausência de denúncias. Existem provas e denúncias, porém estas – parecem – são insuficientes para que haja punições. Certeza que faz aumentar os trambiqueiros engravatados, os quais agem “na maior”, sem se incomodarem com os grampos e com as gravações. Até porque lá na ponta, sempre haverá um jeito de retardar o processo e congestionar o percurso jurídico. 
 
Aliás, não são outros os mecanismos utilizados pela defesa dos mensaleiros. Tidos como réus pelo STF, e, alguns deles, enquadrados em até oito tipos de crimes. O tempo, entretanto, parece ser o maior parceiro de cada um deles. Ainda que o procurador-geral da República, recentemente, tenha pedido a condenação de 36 dos 40 denunciados. Isso não pesa. Pois os integrantes da Alta Corte “andam em marcha lenta” ou “com o freio de mão puxado”, a exemplo dos membros dos demais tribunais tupiniquins. 
 
Situação que favorece os “mensaleiros”, “sanguessugas”, “vampiros dos medicamentos”, “aloprados” e, enfim, uma série de outros que, embora de nomes distintos, se encontram em iguais trincheiras – a sugarem o dinheiro público.

Estes são os casos dos cobradores de propina no Judiciário, no Legislativo, nas secretarias municipais e estaduais e nos Ministérios, que se somam aos fazedores de “caixa 2” de campanha, uma vez que os que doam por debaixo do pano também aparecerão para cobrar a fatura, ainda que em forma de aditivos quando da “elaboração do projeto executivo”.
 
Por conta disso, têm-se menos investimentos em infra-estrutura, na saúde, na educação e na segurança. 
 
Não há dinheiro que chegue. E com o pouco que chega ao destino final, resulta sempre em serviços malfeitos – materializados em estradas esburacadas, asfaltos que desaparecem com as primeiras chuvas e tetos desabando. 

Fazer vistas grossas a esse quadro vexatório é renunciar o próprio papel de cidadão. E isso, por outro lado, reforça a prática de que o público não deve ser separado do privado, nem o Estado distanciado das relações de parentescos e dos compadrinhos.

Desse modo, os braços do clientelismo podem se estender a atividades outras, inclusive a de intelectual orgânico no dizer de Gramsci ou – em uma linguagem mais atualizada – dos que adoram ficar em cima do muro, sem se comprometerem, e, assim, desfrutarem igualmente da amizade dos “donos do poder”.           

Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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