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Opinião
Segunda - 12 de Junho de 2023 às 04:35
Por: Neila Barreto

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A comunicação entre Cuiabá e o povoado de Várzea Grande se fazia por meio de uma balsa, construída no ano de 1874, que por sessenta e oito anos permitiu o acesso, facilitando a travessia do Rio Cuiabá.

Em 1890, um grupo de pessoas, encabeçado por Elesbão Pinto de Oliveira, resolveu construir uma igreja e reuniu os moradores para juntos planejarem a construção. A obra foi concluida depois por Sebastião dos Anjos em 1892, com o nome de Capela Nossa Senhora da Guia. Conforme Ubaldo Monteiro, em virtude da existencia da igreja, foi criada, por lei provincial n° 145, de 6 de abril de 1896, a Paróquia de Várzea Grande.

A referida capela, ainda hoje conserva os traços arqutetônicos de sua origem e constitui-se principalmente num atrativo turístico e religioso; a procissão, o cortejo, a missa, são rituais assimilados por membros da comunidade, que acreditam no que fazem e divulgam a festa de geração em geração, pela presença dos novos festeiros, conforme Josirene Almeida.

A proclamação da República não trouxe de imediato mudanças marcantes para o povoado de Várzea Grande, mas parece ter criado condições políticas para que fosse elevado a Paróquia no ano de 1896, conforme Lei nº 145 de 08 de abril que considerou –o como Distrito de Paz do município de Livramento, atual Nossa Senhora do Livramento. Em 1897, contava com uma população de apenas 100 famílias. Entre os anos de 1899 a 1903, Várzea Grande foi anexada ao município de Cuiabá, como 3º. Distrito da sede Municipal, situado à margem direita do rio do mesmo nome.


A partir da década de 1920, transformações passaram a ser notadas em Várzea Grande, no tocante ao campo político, econômico e social permitindo a fixação de famílias oriundas de vilas e de povoados, como Nossa Senhora do Livramento e de Santo Antônio de Leverger.

Dentre as mudanças ocorridas, encontravam-se a construção da ponte de concreto sobre o Rio Cuiabá em 1942 e a instalação da energia elétrica, em 1945. A inauguração da ponte de concreto inaugurada pelo interventor mato-grossense Júlio S. Muller, significou um importante ganho para Várzea Grande e Cuiabá permitindo agilidade no escoamento dos produtos e maior circulação de pessoas de um lado e de outro do Rio Cuiabá.

No ano de 1948, Várzea Grande foi elevada á categoria de município e ficou constituído pelo Distrito da sede e de Bonsucesso. Ainda na década de 1940, foi aberta a primeira estrada ligando Cuiabá a Campo Grande (BR-163) passando pela Serra de São Vicente e Rondonópolis, dinamizando o crescimento da Capital em direção ao Coxipó da Ponte.

Na década de 1950, mais especificamente no ano de 1953, Várzea Grande recebeu alguns impulsos e dentre esses, a anexação do Distrito de Passagem da Conceição, pertencente ao município de Cuiabá (margem direita do rio Cuiabá) que lhe garantiram alguns passos na ampliação do comércio local e da urbanização e igualmente: a instalação do serviço de água, execução de meio-fio, construção do jardim público, implantação da estrada de acesso às povoações da Guarita e de Passagem da Conceição, pavimentação de avenidas e a construção do prédio do D.A.C – Departamento de Aviação Civil, onde hoje opera o Aeroporto Marechal Rondon. Na década de 1950, a população de Várzea Grande totalizava em 5.503 habitantes.

No entanto, apenas na década de 1960, sob influência da construção de Brasília e por Goiânia, a cidade de Cuiabá, começa a delinear uma nova paisagem urbana em consequência das aspirações da modernidade. Em Várzea Grande o delineamento de uma nova paisagem urbana passa a ser marcada devido a doação de terras, nos anos de 1968 e 1969, para a instalação de indústrias.

Em 1964, foi criado o 3º Distrito no município de Várzea Grande, denominado Distrito de Porto Velho, cuja sede, no final de década de 1970, foi transferida para a localidade de Cristo Rei, no mesmo município.

Durante a década de 1970, Várzea Grande continuou recebendo impulso do mesmo gênero. O interesse encontrava explicação na localização geográfica do município, situado num ponto estratégico ao longo do eixo rodoviário “cujas vias demandam não só para os centros mais desenvolvidos (Sudeste e Sul), quanto para o Norte do Estado e do país”.

Lembramos que na década em pauta, a política de integração da Amazônia fazia parte da estratégia geopolítica do governo militar, instalado no país em1964. Importante igualmente lembrar que na década de 1970, em 11 de outubro de 1977, o Estado foi dividido em Estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com implantação em 1º de janeiro de 1979, o que veio proporcionar à capital e ao Estado, uma nova dinâmica urbana e demográfica.

A implantação da rodovia Cuiabá-Santarém e a fundação dos núcleos populacionais como Sinop, Colíder e Alta Floresta, reconfiguraram a paisagem demográfica do Estado de Mato Grosso e os resultados para Várzea Grande não foram diferentes, “pois os fluxos migratórios aumentaram e a população na década de 70/80 cresceu cerca de 4 (quatro vezes), fazendo deste município um dos mais populosos do Estado”.

Ou seja, em 1970 Várzea Grande já contava com uma população de 18.053 habitantes, passando em 1980, para 76.676 habitantes, com uma taxa de incremento de 324,7. Na década de 1970, o município de Várzea Grande foi contemplado com a criação do Distrito de Capão Grande, através da Lei nº 3.701.

Somada a implantação de rodovias e a fundação de núcleos populacionais, doações de áreas, os incentivos fiscais e infraestrutura permitiram a atração de grupos financeiros para Mato Grosso. Em relação a Várzea Grande, atividades comerciais e industrias se dinamizaram, com fortalecimento do comércio principalmente na Avenida Couto Magalhães e na Alameda Júlio Muller foi instalada da Empresa Sadia Oeste. Nas proximidades se encontra o bairro Cristo Rei, o maior bairro de Várzea Grande.

Assim, a divisão que criou os Estado de Mato Grosso pode ser considerada marco divisor que alavancou o processo de crescimento urbano e demográfico do Estado, principalmente de Cuiabá, que chega ao século XXI como uma Metrópole Regional.

Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.



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