Divagações de sábado à noite A paixão e o amor somente sobrevivem ou são eternos quando impossíveis
Tenho abordado, ultimamente, nesta coluna, temas muito sérios que poucos articulistas se dão ao trabalho de fazê-lo, porque mexem com coisas difíceis e contraditórias sobre as quais não existe consenso. Vou mudar o foco e passo para a comodidade das crônicas sobre coisas mais amenas.
No sábado, fui a uma casa noturna frequentada por pessoas, cuja maioria, já está no outono da vida, identifica com o local, se sente à vontade e gosta de se divertir ouvindo uma boa música, executada por tradicionais e exímios tocadores de choros e sambas tradicionais. Os frequentadores (a) são alegres, descolados e bem-humorados.
A autoestima é forte dos habitués deste lugar, onde as pessoas se divertem - dançam, rebolam e cantam - sem pudor, como se o mundo fosse acabar amanhã e, de preferência, embalado pelo enredo de um samba/choro imortal, uma cerveja estupidamente gelada, uma boa e rica cachacinha e/ou uma caipiríssima etc. E viva a vida, pois a morte é um fato consumado que espera a todos em algum lugar lá na frente!
Foi lá que eu vi, de passagem, a silhueta de uma musa, como tantas que habitam esta Cuiabá de açúcar, o que me deixou entusiasmado. Eu sou dado a paixões platônicas, a minha musa é uma deusa que tem a voz de veludo e atende pelo lindo nome de Mariângela Prado.
E a outra é, nada menos, do que uma ruiva estonteante que se chama é Marina Rui Barbosa que nem desconfia dos meus desvelos, mas se souber rompe com o idílico namoro. Triste sina!
A paixão e o amor somente sobrevivem ou são eternos quando impossíveis, pois não tem o desgaste da convivência, nem do tempo e nem da rotina. A maior certeza desta afirmação – com os devidos reparos - são os romances de Romeu e Julieta e o de Dom Quixote de La Mancha por Dulcinéia de Toboso.
Voltemos a minha inspiração da noite de sábado, quando eu somente vislumbrei o vulto - que me chamou atenção - pelas costas. Entretanto, isto me bastou para buscar na minha memória afetada pela COVID, o escritor Alexandre Dumas Filho, autor do livro A Dama das Camélias, onde o personagem principal, andando, à noite, pelas ruas de Paris, se depara na sua frente com uma mulher de um perfil elegante.
E ele coloca em prática os seus solitários devaneios, sonhos e esperanças, seguindo-a pela rua, na esperança de abordá-la, até que ela para em frente de uma casa e o chama para entrar e ele segue em frente, no seu desalentado percurso, pois tratava-se de uma prostituta. Lá se foram para o brejo todas as suas boas intenções, certezas e nutridas esperanças!
Minha cara Rita Comini, o falecido Jornalista José Eduardo Espírito Santo, quem primeiro me incentivou a escrever artigos, dizia que um primoroso texto jornalístico que se prese tem que conter a uma página e meia, o que me levou a ser alertado depois por elaborá-los muito curtos. Agora, sob nova orientação jornalística, espero que eles possam a atender aos novos parâmetros, pois, meu caro leitor, ainda pretendo incomodá-lo por muito tempo.
Renato Gomes Nery é advogado.
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