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Opinião
Domingo - 25 de Junho de 2023 às 04:59
Por: Neila Barreto

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Para Evaldo de Barros, em à “Cidade vive dos que vivem e viveram nela”, a história do Senadinho é assim: “A Farmácia Tenuta localizava-se na Praça da República, esquina com a rua Ricardo Franco (rua do meio), em Cuiabá-MT. Ali o senhor Oriente Tenuta Filho colocou dois bancos de madeira que ficavam ao lado da cadeira de balanço dele, onde Tenuta sempre se sentava.

Entre os atendimentos dos clientes da farmácia o Tenuta balançava na sua cadeira de palhinha e olhava os acontecimentos da cidade. Como em Cuiabá, a maioria das pessoas são parentes e/ou normalmente, a maioria se conhecem, calmamente, os que por ali transitavam iam chegando e se sentavam nos bancos de madeira, para uma conversa descontraída.

“Acho que os primeiros ocupantes desses bancos foram o Dr. Farid Seror, médico e o contador José de Carvalho. O Dr. Farid operava na Santa Casa de Misericórdia sempre às primeiras horas do dia, depois fazia a barba no Salão do Miguel e vinha para a Farmácia Tenuta. Logo depois vieram: Gervásio Leite, Orlando Nigro, Aretino de Matos, Rubens de Mendonça, João Maia, Coronel Armando Addor, Lino Maurício da Silva, Milton Corrêa da Costa, Fernando Marques Fontes, Luiz Fernando Barros Tenuta, João Elias Batista da Costa, Renato de Araújo Calhao, Alfredo Miguel Kalix, Lenine de Campos Póvoas, João Bosco de Arruda e Sá, José Sardi de Figueiredo, Francisco Augusto Falcão, Benedito Scaff Gabriel, Waldo Olavarria Filho, Donato Borges de Figueiredo, os irmãos Leopoldo e Fioravanti Fortunato dentre outros”. Muitos aqui já faleceram. Valeria uma pesquisa para localizar esses homens no tempo e no espaço!

Oriente Tenuta era casado com a senhora Elza Maria. Depois que o marido faleceu, Elza Maria assumiu a presidência do Senadinho, a moda a rainha Elizabeth, isto é, reinava, mas, não governava, apenas acompanhava as reuniões, onde os membros tinham total liberdade de discutir os assuntos da cidade e da política, entre outros.


A Rua Cândido Mariano, esquina com a Rua Barão de Melgaço, hoje o ponto se encontra vazio. O encontro do Senadinho acabou. Após a pandemia ele deixou de existir.

O espaço do Senadinho representava uma minúscula praça de uma Cuiabá de outrora, onde as pessoas se sentavam na calçada para conversar. Esse espaço em Cuiabá era muito importante, uma vez que, para todos“ a praça é vista como exemplo dessa interação, um local de grande valor histórico, cultural e de interação social sendo fundamental na configuração urbana tornando em um dos mais importantes espaços públicos da história das cidades.

Comumente definida como o lugar do encontro, passagem e da sociabilidade. Historicamente é palco de manifestações culturais, sociais, políticas, cívicas, esportivas e religiosas.

Sua essência é constituída a partir da história que ela carrega, de seu desenho paisagístico e de seu conjunto urbanístico. A integração entre morfologia, estética e apropriação é que permitem a formação das praças como espaços simbólicos, lugares de memória, conforme diz Rejane Cristina da Silva Barros”, assim como o Senadinho representava para a população cuiabana. Hoje as praças continuam sem, contudo, oferecer espaços seguros para reuniões, principalmente, aos membros da terceira idade e para as crianças, jovens enamorados, o que é uma pena, para uma cidade tão quente como Cuiabá, onde os parques existentes não oferecem espaços e segurança para tal e para esses convívios.

Sobre Elza Maria de Barros Tenuta informamos que é uma cuiabana nascida em 30 de setembro de 1942, filha do empresário atacadista Antônio Lucas de Barros e de D. Mariana Figueiredo de Barros. É viúva de Oriente Tenuta Filho, advogado, farmacêutico, filho de Oriente Tenuta e Maurina Ferreira Tenuta, conhecido pelos íntimos como Nenê ou Tenuta, um dos criadores do Senadinho, fundado em 1970, o qual ajuda a compor uma parte da história de Cuiabá.

O criador do Senadinho foi o contador João Elias Batista Costa, conhecido como João Bala, irmão do médico Afrânio Batista da Costa, conforme atesta Barros Tenuta, em suas memórias, nos conhecidos jornais da cidade de Cuiabá.

Elza Maria casou-se em 07 de fevereiro de 1960, em um sábado de carnaval, na capital com Oriente Tenuta Filho e, permaneceu casada por 41 anos, até a sua partida em 2001, com quem teve quatro filhos, todos médicos: Antônio Lucas, oncologista, Maria Cristina, gastro, Maria Inês, pediatra e Luiz Fernando, já falecido, que era oncologista, também.

Segundo ela, o dia do carnaval foi escolhido porque Tenuta era um voraz trabalhador e não podia faltar aos trabalhos na farmácia, propriedade da família.

Para o jornalista Paulo Zaviasky, já falecido, o primeiro Senadinho de Cuiabá foi o Bar do “Bugre”, de nossa gente e de nossos valores." Os mais sapecas eram Rubens de Mendonça, Carlos Eduardo Epaminondas e Filinto Müller, nessa ordem. Havia uma janela mágica por ali que fazia com que os mais jovens dali se perdessem nos assuntos de gente grande. E quem mais vivia me sondando eram o Rubens, Filinto e Carlos Eduardo.

O excelente médico Carlos Eduardo, de vez em quando, me beliscava ordenando-me, como bom comandante de uma aeronave de sonhos, que eu prestasse mais atenção aos assuntos do senador e parasse de ficar olhando aquelas janelas”, dizia Zaviasky.

Cuiabá torce pela reabertura do Senadinho que a pandemia levou embora, onde o hábito continue, onde os amigos sentados em cadeiras de balanço de palhinha, lá passam reunir e passar as frescas manhãs, relembrando os bons tempos, àqueles que não voltam mais e, ao mesmo tempo, onde os amigos possam saber das últimas novidades. Cuiabá, ainda é carente de lugares seguros para receber a terceira idade.

Que tal a Residência dos Governadores, próximo ao antigo Senadinho! Ali poderia ser um ponto de encontro desses sábios homens e, por que não de sábias mulheres! A cidade poderia pensar!

Elza Maria Barros Tenuta que cultiva e incentiva tal costume, presidente do Senadinho, por sinal era a única mulher que participava do grupo. Aguardamos ansiosos o momento da reabertura do Senadinho.

Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.



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