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Opinião
Segunda - 03 de Julho de 2023 às 07:22
Por: Neila Barreto

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Hoje passei o dia todo pesquisando sobre o que escrever. Um assunto não saia da minha cabeça: São Benedito. O Hino do Santo Negro batia forte em meus ouvidos. No final da tarde o escolhi ou fui escolhida por ele.

As festas, desde longo tempo, se constituem em um tema da história cultural, em torno de ocasiões como carnavais, grandes datas festivas do calendário religioso ou momentos de comemoração popular da sociedade onde alguns paradigmas são adotados.

De um lado, temos ocasiões nas quais os elementos fundantes de uma cultura nacional podem emergir em sua expressão mais pura e autêntica; de outro, procurou-se afirmar a existência desta cultura nacional a partir da ideia de um conjunto de tradições significativas capazes de atravessar o tempo e consolidar aproximações e oposições.

Em um local conhecido como Tanque do Ernesto, às margens do Córrego da Prainha, “levantaram os pretos uma capelinha a São Benedito junto ao lugar chamado depois rua do Sebo, que, daí a poucos anos, caiu e não levantou mais”.


A citação é de Barboza de Sá, historiador dos primeiros tempos da cidade de Cuiabá. Segundo ele, a capela que originou a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito foi erguida pelos escravos no ano de 1722.

Benedito nasceu em Palermo, na Itália. Filho de descendentes de escravos trazidos da Etiópia, dedicou sua vida ao próximo, seguindo os caminhos de seus pais, Cristovam e Diana. São Benedito pertenceu a congregação cristã franciscana. Desfez de tudo que possuía e se tornou um eremita franciscano. Faleceu no dia 4 de abril de 1589, aos 65 anos de idade.

Em Cuiabá, a tradicional Festa de São Benedito, santo de virtude humilde, está ao lado do povo desde o início da cidade. A festa de São Benedito é a maior em Mato Grosso onde todos os fiéis, crianças, velhos e moços veneram e agradecem as graças recebidas.

Segundo Adolfo Vilela, já falecido, São Benedito é o braço forte, o sustentáculo da igreja. Nos dias de sua missa, superlota as bandejas e todos cantam entusiasmado “Bendito seja louvado, não deixai perder a fé, em toda a parte que esteja”, em seu livro “Lixeira da árvore o nome do bairro, de 1992".

A festa é organizada durante vários meses e executada em quatro dias com uma programação intensa, onde de manhã é celebrada uma missa seguida de “chá com bolo” na casa do festeiro. A comida também foi introduzida, mais tarde, na festa, que até então seguia o estilo de quermesse.

A descoberta do interesse do público em geral pela comida das “cuiabana" como a “Maria Isabel”, “Farofa de Banana” e os bolos de arroz, queijo, francisquitos, resultou em que ela fosse introduzida na festa, em barracas, o que afinal acabou se tornando tradição.

O primeiro edifício onde São Benedito ficava era uma capelinha de taipa de pilão, que se arruinou com o pouco tempo. Restando uma das paredes, a partir dela foi erguido um templo maior. Quando a catedral de Cuiabá foi reformada, ainda no século XVIII, seu altar-mor foi transferido para a Igreja do Rosário e ali permanece até hoje.

ORAÇÃO A SÃO BENEDITO - Oh! Glorioso São Benedito que pobre e sem letras, guardastes os rebanhos, lavrastes os campos, vos retirastes aos ermos, vos recolhestes ao convento, onde socorrestes os indigentes e enfermos, onde fizestes rigorosas penitências, praticando todas as virtudes, em grau elevado, a ponto de o Altíssimo ter-se dignado operar milagres por vosso intermédio em vida e após vossa santa morte.

Oh! Meu excelso protetor São Benedito, sempre humilde e sem outra pretensão do que servir a Deus e ao próximo, por amor a Deus, alcançai-me pela vossa profunda humildade a graça que agora imploro e que necessito para minha eterna salvação.

(Pausa) Fazei que vosso exemplo despreze a minha vaidade deste mundo, tenha comiseração com o próximo, aspire a sempre maior santidade, tornando-me amigo da cruz e da solidão, afim de que depois de uma morte semelhante à vossa, mereça entrar na bem-aventurada mansão dos justos, e em vossa companhia glorificar por toda a eternidade aquele que, exaltando e enaltecendo os verdadeiros humildes disse: “bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Amém.

Benedito Santo, de Deus amado. Sede no céu nosso advogado.

Tudo vos pedimos, que nos alcanceis. Favores e graças, que tudo podeis.

Se nos conseguirdes que vos imitemos, na vida e na morte felizes seremos.

São Benedito, rogai por nós.

Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.



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