Um olhar sobre o saldo do semestre Novo arranjo federal indica desalinhamento do Executivo e o Congresso
Chegamos ao final do primeiro semestre deste emblemático ano de 2023. Um ano que começou sob o signo da incerteza e de maneira muito conturbada, com sinais de mudanças políticas importantes para o nosso país.
Passados os primeiros seis meses, o que podemos realmente destacar sobre este novo caminho que começamos a trilhar em janeiro? Seguem algumas conclusões que me parecem pertinentes.
Politicamente, o novo arranjo federal indica que há mais desalinhamento dentro do Poder Executivo do que entre ele e o Congresso. Discursos bem elaborados e revestidos de bons conceitos encontram imensas dificuldades técnicas e práticas para a sua implementação, trazendo incertezas no cenário macroeconômico do país.
Partidos que compõem o governo não votam com o governo, ministros com discursos antagônicos entre si e diversas necessidades de intervenção do chefe do executivo desautorizando medidas anunciadas por membros do primeiro escalão mostram que a gestão ainda não tem a unicidade necessária.
Olhando para fora do governo, a ideia de uma administração que resgate e inclusão social foi centrada em aumento do gasto público, mas se esqueceram de que não há dinheiro para financiar estes projetos. Aumentar o buraco nas contas do governo elevando a dívida ou com mágica contábil seria um desastre, pois neste momento destruiria a credibilidade fiscal do país.
Sem espaço para aumento de receitas em um momento de fraco crescimento e de uma já insuportável carga tributária, o tempo vai passando e as ações isoladas não conseguem formar um conjunto de medidas estruturantes para os setores da sociedade.
A desigualdade aumenta, o endividamento das famílias e das empresas também, o PIB patina e os projetos estruturantes como o das regras para controle das contas públicas, as reformas tributária e administrativa ou os projetos de reindustrialização ainda não estão caminhando na velocidade esperada. A bolsa alta e o dólar baixo impulsionados pelo dinheiro de especuladores estrangeiros criam a sensação de geladeira cheia, mas os produtos lá dentro não são nossos.
Do ponto de vista da narrativa, as pessoas estão cansadas de discursos desconectados das ações. Culpar o governo anterior não funciona mais, pois a lua de mel com a atual administração já acabou. Eleger vilões de ocasião como os manifestantes de 8 de janeiro ou o presidente do Banco Central também não conseguem construir um inimigo visível e ameaçador, fazendo com que o protagonismo (para o bem e para o mal) esteja apenas com os ocupantes dos principais assentos do poder em Brasília.
A pressão de um país que não funciona adequadamente para o cidadão está, cada vez mais, caindo sobre os ombros dos chefes dos três Poderes, que se vêem sem saída e começam a se entreolhar com mais desconfiança e menos espírito de parceria. Neste ambiente, qualquer palavra mal colocada pode iniciar uma crise institucional com imenso potencial desestabilizador para nosso país.
Passados seis meses, patinamos muito e caminhamos pouco. Mais do que apenas acelerar, neste ponto nos falta ainda uma direção a seguir e também combustível para continuar avançando.
Gustavo de Oliveira é empresário em Cuiabá-MT.
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