Escrever sobre o que? Sentei-me diante do notebook e vi tela vazia. Nem uma palavra me ocorreu
Escrevo artigos diários desde 29 de junho de 1990 até junho de 2014 para o jornal A Gazeta, de Cuiabá. Depois disso, passei a escrever um artigo semanal, agora compartilhando com alguns sites do Estado.
Nunca me faltou assunto. Ao contrário. Às vezes daria pra escrever até dois artigos por dia. Hoje, porém, sentei-me diante do notebook e vi uma tela vazia. Nem uma palavra me ocorreu.
Por vezes, sentei-me com uma palavra em mente e o assunto fluiu com naturalidade. Desta vez não. Fiquei em silêncio com as palavras.
Vi a aprovação relâmpago da reforma tributária na Câmara dos Deputados na última sexta-feira. Assunto superestratégico esperado com ansiedade pela nação brasileira nos últimos 20 anos. Na prática, a votação da Câmara dos Deputados foi mais um ato de submissão e de irresponsabilidade política do que um ato parlamentar. Não entro no mérito da reforma.
O presidente da República determinou que se votasse a pagou pra isso. Dos 513 deputados federais, 382 votaram sim. 118 votaram não e 3 se abstiveram. Todos mal leram o projeto e sequer sabem exatamente no que votaram. Votaram por submissão e por dinheiro de emendas pagos na boca do caixa, por pix.
Todos sabemos que o Senado Federal não vai deixar por menos. É um puxadinho do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Mais pix e a cidadania dos nobres 81 senadores ficará profundamente sensibilizada pelo voto a favor.. Também sem ter lido o que estarão votando.
Então, escrever sobre o que? Sobre política? Não. Não vejo justiça em escrever sobre a justiça. Sobre o poder Executivo? Seria escrever sobre o renascimento do poder feudal da Idade Média. Ou dos governos imperiais absolutistas da mesma época.
Sobre o serviço público, alienado, omisso e improdutivo? Sobre o presidente da República que recuperou o poder imperial? Então olho pra tela do notebook e continuo vendo um espaço em branco.
Sobre os governadores, que orientaram as suas bancadas no Congresso Nacional a votarem com olhos nos três anos e meio de governo que lhes restam por vantagens instantâneas? Ou com medo das repressões imperiais? Não.
Continuo olhando pra tela do notebook e fazendo essas reflexões. Não tenho sobre o que falar ou comentar nessa falta crônica de assuntos dignos de uma avaliação capaz de informar à opinião pública.
Se foi assim no primeiro teste, daqui pra frente nada haverá mais que discutir no Congresso Nacional, senão olhar com um olho nos pixes do governo, e outro no sorriso largo da conta dos ilustres parlamentares por votações de quaisquer temas, irrigados por emendas diretamente no caixa.
Perdeu-se a compostura.
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Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
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