Profissionais encantam a alma Cantar não é tão simples e exige uma questão da afinação interna

Como admiradora e cantora, posso dizer com propriedade que o canto tem destino certo: o coração e a alma!

No dia 13 de junho é celebrado, no calendário nacional, o Dia do Cantor, e vou dedicar algumas palavras a este profissional tão essencial em nossas vidas, mas muitas vezes ainda incompreendido.

Costumo dizer que existem duas vertentes de cantores: uns que já nascem com esse dom do canto e aqueles que não têm o dom, mas que desenvolvem o talento trabalhando nisso. Conheço pessoas, ao longo da minha estrada de professora de canto, que não eram habilidosas e que, pela prática constante, hoje são cantores e conseguem ter a percepção do canto.

Na verdade, ao contrário do que muita gente imagina, cantar não é tão simples e exige uma questão da afinação interna, uma afinação neural, aliás, a percepção de sons não é algo corriqueiro e comum para todo mundo. Quando você ouve uma pessoa cantando “fora do tom”, é porque ela ainda não tem essa percepção, essa organização interna sonora.

Tem que se pensar que o canto é diferente da fala, já que o falante usa apenas a voz falada. O cantor atua em duas lateralidades neurais, trabalha o lado direito do cérebro quando está executando o a melodia e o lado esquerdo a letra. Inclusive, estudos mostram que o canto (melodia+letra) podem alcançar o sistema neural de uma maneira muito mais profunda, levando às emoções e sensações. Olha que responsabilidade.

Mas o cantor profissional, aquele que vive da música, sabe que além de saber cantar é preciso perseverar, porque o canto envolve prática, habilidade e dedicação. O trajeto de um músico(cantor) inclusive para os que já nascem com o dom, envolve muito querer. Cantar é uma profissão, e deve ser tratada como tal.

Cabe ao cantor treinar, tirar um tempo, pensar e trabalhar suas canções, mas também promover materiais, divulgar ações e participar de encontros. Alguns cantores que trabalhei, só não chegaram a um nível de sucesso porque não entenderam que o cantar também é uma profissão e exige organização.

Cantar é apenas uma parte da profissão, afinal o cantor se torna uma empresa, um produto, então é preciso tornar isso profissional para quem quer viver da música.

Inclusive, o cantor tem que buscar a identidade que quer “imprimir” na sua carreira. É necessário ter um planejamento. Vejo muitas pessoas querendo cantar de tudo, o que para mim é um equívoco. Cabe ao cantor buscar além da voz, qual o sentimento que quer alcançar nas pessoas, porque o que move multidões não é aquele que canta “bonito”, é aquele que consegue expressar no canto a sua alma.

Uma dica importante que dou é a prática do canto coral que é ótimo pra quem tá iniciando no canto, porque você tem o suporte de outras pessoas cantando junto.

Mas, no final das contas, tudo é prática. Exercite o canto e a musculatura e não se esqueça de passar por um profissional para todo o acompanhamento de voz, testes e entendimento do que é preciso ajustar e exercitar. Enfim, cantar é empreender e ter a habilidade de traduzir em sons e melodias as palavras e as mensagens.

Imagina o mundo sem os nossos cantores? Seria um mundo sem timbres que falam ao coração. Por isso, quando eu vou a um lugar e vejo ali um cantor se expondo, muitas vezes num cantinho, eu sempre estimulo as pessoas presentes a aplaudirem e mostrarem que estamos ouvindo e se alegrando com aquele trabalho de canto no ambiente.

De fato, as emoções e a mensagem trazidas pelo canto é algo que deixa o mundo mais feliz.

Aos cantores que estão em shows, mas também aos cantores que estão nos corais sacros dentro das igrejas, aos trovadores do nordeste, aos cantores da folia de reis, aos cantores que se dedicam às canções infantis e até aos professores que estão em sala, que cantam para auxiliar no processo de aprendizagem, só tenho a dizer parabéns.

Palmas para aqueles que cantam vivendo o texto e a história que estão cantando, que criam uma potência de energia contagiante para quem está ouvindo, criando e modificando o estado de espírito das pessoas.

Sônia Mazetto é fonoaudióloga.