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Opinião
Quinta - 27 de Julho de 2023 às 06:52
Por: Leonan Roberto de França Pinto

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Sem exageros, o cenário que prevalece hoje no meio urbano são crianças, jovens e adultos com a cabeça para baixo, olhos fixados na tela do smartphone e o dedo indicador ou polegar “arrastando a tela para cima ou para o lado” na busca incessante de mais vídeos, fotos e conteúdo digital.

Quanto maior o engajamento e tempo de permanência no aplicativo pelo usuário, maiores são os valores que as empresas e anunciantes pagam aos influenciadores digitais e plataformas. Mas como as redes sociais conseguem impor tamanha influência sobre a rotina e a vida das pessoas?

Um dos filósofos contemporâneos que estuda esse fenômeno é Byung Chul Han, um dos maiores expoentes da nova técnica de controle social nominada de “Psicopoder”.

Segundo ele explica, por meio da psicometria, análise dos dados pessoais, profiling (perfilização) e behavioral targeting (segmentação comportamental), o algoritmo identifica os padrões do usuário, ordena e organiza a hierarquia dos conteúdos e anúncios e, sem seguida, agrupa-os em “filtros informacionais” (filter bubble). O combustível usado para tanto são os dados pessoais.


Por exemplo, ao utilizar um serviço de streaming de filmes e séries, a partir de poucos cliques do usuário, o algoritmo já é capaz de fazer uma análise preditiva e oferecer apenas filmes do gênero predileto do usuário, mas ele também pode de induzi-lo a assistir a uma produção patrocinada por uma marca.

Além disso, a plataforma captura dados relevantes como a cidade e bairro que mora o usuário, seu horário de lazer, a existência ou não de crianças na família, etc.

Com todas essas informações na mão, sem qualquer regulação legal, é possível perfilizar as pessoas de uma região e comercializar os perfis para outras empresas, inclusive locais, executarem uma publicidade direcionada.

Daí a importância de fiscalizar o cumprimento da Lei de Proteção dos Dados Pessoais, impedindo que informações e preferências pessoais sejam livremente compartilhadas e comercializadas ilegalmente por empresas gananciosas que não se importam com a privacidade alheia para lucros próprios.

Em suma, o mundo praticamente foi dominado por modelos matemáticos de processamentos que usam os dados pessoais dos usuários para o exercício do Psicopoder. Cabe a todos zelar pela efetiva proteção dos dados pessoais com vistas à tutela da privacidade.

Leonan Roberto de França Pinto é procurador do Estado de Mato Grosso.



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