Longevidade e vacinação
A vacinação em larga escala tem sido um marco crucial no Brasil e no mundo, resultando no controle e até mesmo na erradicação de diversas doenças que antes representavam sérios problemas de saúde pública. Doenças como poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche, que já foram frequentes no passado, são agora apenas lembranças distantes para as novas gerações. O Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde desempenha um papel fundamental nessa conquista, pois representa um esforço contínuo para proteger a saúde pública e conter a propagação de doenças.
Uma ênfase especial tem sido dada à imunização dos idosos, uma vez que, devido à idade avançada e às condições de saúde que caracterizam essa faixa etária, se torna uma população mais vulnerável, sujeita a complicações. O assunto é importante porque a população brasileira está envelhecendo rapidamente, com pessoas com mais de 60 anos representando 14,7% da população, segundo dados do IBGE. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% entre 2012 e 2021.
A queda inicial da mortalidade, impactada substancialmente pela redução das mortes por doenças infecciosas, com o envelhecimento da população, assiste a um crescente aumento dos casos de doenças crônicas e degenerativas. Desta forma, as doenças passam de um processo agudo que termina em cura ou morte, para um estado crônico que as pessoas sofrem durante longos períodos da vida e que, quando não adequadamente controlados, podem gerar incapacidades, comprometendo significativamente a qualidade de vida dessas pessoas.
Além disso, ao celebrar os anos a mais, é preciso reconhecer que maior longevidade sem qualidade de vida é um prêmio vazio, ou seja, a expectativa de saúde é tão ou mais importante do que a expectativa de vida. A prevenção de doenças infecciosas insere-se nesse contexto ao possibilitar a redução da morbidade.
Pessoas idosas estão entre as mais vulneráveis aos desfechos graves causados pelas doenças infecciosas: hospitalizações; óbitos; descompensação de doenças de base, como diabetes, cardiopatias e doenças pulmonares crônicas; maior risco para o infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral; sequelas que impactam negativamente na qualidade de vida, na perda da independência e incapacitação do indivíduo. Vacinas podem ser consideradas importantes ferramentas para a adaptação bem sucedida do organismo às ocorrências que ameaçam as suas funções e viabilidade com o envelhecimento.
Atuais ganhos na compreensão sobre as imunizações abriram uma onda de inovações com a disponibilização de novas vacinas e estratégias voltadas para a saúde do idoso. Esse conhecimento, combinado com a mudança da epidemiologia de agentes infecciosos, tem levado a um ciclo rápido de atualizações nos calendários de vacinação para alinhar a prática clínica atual ao progresso científico.
As Sociedades Brasileiras de Imunizações (SBIm) e de Geriatria e Gerontologia (SBGG) recomendam a vacinação rotineira do idoso com as seguintes vacinas: influenza, pneumocócica conjugada 13 valente, pneumocócica polissacarídica 23 valente, herpes zóster, Difteria e Tétano, Febre Amarela, hepatite B e pertussis (coqueluche), incluindo a dose anual contra a covid-19 e a gripe.
A vacinação é uma das medidas de saúde pública mais eficazes para prevenir doenças, no entanto, as taxas de cobertura vacinal na população adulta ainda permanecem abaixo das metas, mesmo quando as vacinas são ofertadas gratuitamente. Considera-se que as principais barreiras para a vacinação de adultos sejam: as crenças equivocadas e a baixa conscientização de pacientes; e o insuficiente conhecimento e as atitudes negativas por parte de médicos. A falta de prescrição médica é apontada na literatura como a principal razão para adultos não se vacinarem.
O Brasil envelheceu e políticas para o incremento da imunização de adultos fazem-se necessárias e devem procurar: incluir o tema imunizações em programas de educação médica e para outros profissionais de saúde; envolver a sociedade civil na conscientização da população; estabelecer ou melhorar sistemas de vigilância para determinar e monitorar a carga das doenças imunopreveníveis em adultos; alinhar diferentes recomendações e protocolos; criar registro das imunizações de adultos e integrá-lo aos registros médicos eletrônicos.
Pouquíssimas intervenções têm o potencial de impacto da saúde pública que as vacinas têm, considerando o baixo custo investido. A vacinação com esquema completo, em especial quando acrescida do reforço, é fundamental e é a forma mais efetiva da população se proteger.
Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium.
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