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Opinião
Terça - 26 de Setembro de 2023 às 03:03
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Foram divulgadas através de vídeos, dias atrás, as imagens das câmeras de segurança de um condomínio retratando as agressões que um companheiro praticava contra a sua parceira. Os vídeos são do ano de 2.022, e somente agora foram publicados.

R.L., enfermeira, havia deixado de exercer a profissão para viver um relacionamento com o médico J.P.C. Passou a cursar medicina com a ajuda do convivente.

O fato aconteceu em João Pessoa, onde a mídia narrou que o agressor era pessoa bastante influente. A mulher conta que as agressões aconteceram por inúmeras vezes, mas ela não se enxergava na condição de vítima. Por conta das imagens das respectivas câmeras, vizinhos pediram que ela fosse chamada na delegacia de polícia.

Ela, na ocasião, em 2.022, vivendo com o agressor, disse que estava tudo bem em casa, indo embora em seguida. A mulher conta que as vezes que foi agredida, quando o agressor percebia que ela poderia buscar ajuda do poder público lançava: “O que vai acontecer? No máximo pagar uma fiança. Vai acontecer isso.


Vou seguir minha vida normal e a sua que acaba porque você vai voltar a ser enfermeira e vai conseguir emprego aonde? Porque as pessoas não vão te ajudar por minha causa”.

Segundo ela: “Você tinha que concordar com a opinião dele. Se você tivesse uma opinião própria, ele achava como se fosse um desaforo, como se eu estivesse enfrentando. [...] Algumas vezes ele vinha me pedir desculpas daquela forma grandiosa. Outras vezes ele ficava em silencio no canto dele e eu no meu.

Até que alguma hora a gente conseguia conversar. Outras vezes ele se mostrava incomodado quando via meu corpo machucado”.

O homem, por certo, acreditou na impunidade. Acreditou, ainda, que a mulher, sua dependente financeira, jamais sairia do relacionamento abusivo e criminoso que vivia. O relacionamento era mantido da forma como ele desejava, já que o absoluto controle do corpo, da vontade, da liberdade, e do futuro dela, o pertenciam.

O impacto do relato em não poder exprimir as suas opiniões, ficam evidentes com a obrigatoriedade em se calar, ou com ele concordar. Ter o que ela chama de “opinião própria” era defeso, desaforo, como se fosse um enfrentamento. E acaba sendo indissociável a impossibilidade de manifestar a sua convicção, com a imagem da cabeça dela sendo puxada para trás com força por ele, juntamente com o murro que leva dentro do carro.

As cenas mostradas neste caso, em corroboração com os fatos contados, nos apresentam como as mulheres, muitas delas, são tratadas em relacionamentos íntimos e de afeto.

O que se denotam são decisões importantes da vida deles e delas tomadas apenas por uma das partes, os homens. Mulheres que sofrem violências morais e psicológicas cotidianamente, por não poderem se expressar em palavras. Para muitas, como acima narrado, é proibido expor as respectivas ideias, sob pena do “amor” entender que elas estão a os afrontar. Logo, ficam a um passo de sofrerem violências à integridade física.

A dúvida sobre estar ou não sendo vítima, já é um importante sinal. A agressividade pode estar “guardada” em situações que elas conseguem enxergar, mas que não vislumbram como graves. O ato de discordar pode ser um exercício revelador...

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.



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