Memórias Mia Couto relata que na África, em muitos locais, a história é oral
Mia Couto relata que na África, em muitos locais, a história é oral. A riqueza disto está em que tudo é passado de geração em geração de “boca a boca”. Se aprende tudo ouvindo, experimentando, vendo e vivendo.
A riqueza destas regiões está em tudo que as pessoas ensinam e aprendem é pela oralidade da solidez de experiências idas e vividas. As estações, os plantios, as colheitas, as fases da lua e sua influência decisiva em tudo que vive e move neste torrão.
As crenças, as curas, o presente e futuro estão nas mãos das pessoas que passam o legado para os descendentes. Entretanto, na maior parte do mundo, se grafa tudo depois da escrita e, hoje, imperam a fidelidade das imagens instantâneas.
Esta introdução é para dizer que eu sou aficionado por livros de memórias e biografias, quando estas são bem-feitas e não servem para inflar o ego de ninguém.
Eu já disse, em outras ocasiões, que sou inquieto e um curioso nato que se propôs desvendar e saber de tudo. E nisto, eu puxei meu pai que vivia de elocubrações, apesar de poucas letras, querendo descobrir os mistérios do mundo. Um dia, ele leu em algum lugar, o quanto pesava a terra. Para ele – bolicheiro de poucas patacas – surgiu uma indagação: onde está balança que pesou a terra?
Como se vê, tenho um antecedente poderoso que orienta a bússola de minhas inquietações. Foi este êmulo que me levou aos livros e o mundo que se descortinou num estuário, a minha frente.
E lamento ter virado “rábula”, pois passei a vida decorando códigos e resolvendo problemas que não eram meus, quando poderia ter percorrido outras veredas mais afeitas as minhas inquietudes. Vá lá entender o mundo cheio de tantos, tortuosos e ínvios caminhos que nos levam a lugares inusitados e, às vezes, desembocam num monumental equívoco. Não tenho reposta para esta indagação, pois não trilhei outros caminhos.
Vou parar de rodear o toco e terminar este artigo sobre um assunto que me é tão caro: livros. Todo escritor, creio eu, conta as suas memórias, aos pedaços, em cada livro que concebe.
Entretanto, este gênero memorias/biografias se propõe a descrever detidamente a própria história, ou a de outras pessoas. Fica aqui o registro de uma pessoa que insisto em ser seu amigo, mas ele é esquivo e produziu e dois volumes da notável obra: O DNA do Melhor Lugar do Mundo.
Portanto, meu caro leitor, quero lhe sugerir que descortine o mundo sob as lentes de memorialistas e biógrafos. Fica a minha sugestão de obras que li e gostei: Solo de Clarineta de Érico Verissimo; Confesso que Vivi de Pablo Neruda; O Anjo Pornográfico/Nelson Rodrigues de Ruy Castro; Chatô – O Rei do Brasil de Fernando Morais; Mauá – Empresário do Império - de Jorge Caldeira; Memórias de Adriano – Marguerite Yourcenar; Advogado de Defesa - A vida de Clarence Darrow de Irving Stone. Na minha frente, na fila, me olham de soslaio, a cobrar leitura, uma biografia de Churchill e outra do genial George Orwell.
Renato Gomes Nery é advogado.
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