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Opinião
Quarta - 25 de Outubro de 2023 às 03:46
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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O dia 26 de outubro foi dedicado à visibilidade intersexo. A data deve ser lembrada no calendário, tendo em vista a importância em se entender as características físicas de cada qual, e, ainda, o respeito.

Em 1996, ocorreu a primeira demonstração pública de pessoas intersexo na América do Norte, pela Academia Americana de Pediatria, dando origem à celebração.

Com o tempo, as definições de intersexualidade foram se modificando, para melhor adequação aos direitos humanos. Inclusive, as questões sobre orientação sexual, identidade de gênero, expressão de gênero e características sexuais são tratados pelos Princípios de Yogyakarta (2006), do qual o Brasil é signatário.

É preciso entender sobre a diversificação em torno da intersexualidade. A pessoa intersexo nasceu entre os dois sexos, tendo total ou parcialmente desenvolvido ambos os órgãos sexuais, ou um predominante sobre o outro.


Podem ser heterossexuais ou não, cisgênero ou não, e, ainda, identificar-se com o sexo atribuído no ato do nascimento ou não. As características ou traços podem ser observados durante o pré-natal, no nascimento, e/ou nos momentos do crescimento e mudança dos ciclos da vida.

Estima-se que no Brasil mais de 100 mil pessoas possuam características intersexuais, entre 0,05% e 1,7% da população. O preconceito e a falta de informação podem trazer sofrimentos sobre a sexualidade. Em algumas situações, as pessoas intersexuais nascem com características sexuais, anatomia sexual, órgãos reprodutivos e padrões hormonais que não se enquadram nas definições dos corpos masculinos ou femininos.

Os desafios passam a ser inúmeros para essa população, com violações à integridade física de inúmeras formas, na educação, na saúde, nos esportes, no emprego e em muitos outros lugares.

A medicina em muito avançou sobre os estudos à volta do tema, de forma que a descoberta dos cromossomos sexuais foi um grande passo para a compreensão genética e molecular das determinações sexuais.

Em tempos passados, muitos corpos foram mutilados e torturados pela absoluta ignorância e incompreensão. Segundo a ONU, os direitos humanos avançaram neste particular, em razão do trabalho dos defensores e defensoras militantes pela questão. O alerta, na atualidade, deve ser sobre a conscientização, com campanhas a fomentarem os cuidados e direitos dessa vulnerabilidade.

O desconhecimento da família e da própria área médica sobre a intersexualidade trouxe inúmeros problemas vivenciados por pessoas que seguiram se entendendo pertencente ao gênero masculino ou feminino.

Todavia, muitas delas perceberam que o desenvolvimento de determinado órgão não acontecia, fazendo com que os recursos fossem remédios e hormônios. Relatos de transfobia e intersexofobia são muitos, inclusive, com perseguições e formas de tratamento pejorativo. Para muitos e muitas o consolo foi a automedicação, redundando em humilhações. O banheiro, local que deve ser visitado e revistado normalmente, se torna território proibido, inclusive, com possibilidade de assédio.

É assunto de pouca discussão, o que as faz pessoas com pouca visibilidade. Por anos, foram submetidos e submetidas a cirurgias desnecessárias, por conta da binariedade que permeia a sociedade, para satisfazer as expectativas do mundo “comum”. O medo deles e delas também é realidade. Todavia, a saúde é direito inalienável e intransferível!

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.



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