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Opinião
Sábado - 28 de Outubro de 2023 às 04:15
Por: Renato Gomes Nery

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Peguei-me hoje aborrecido com alguns percalços e demônios que insistem em me incomodar. Uns são novos e outros são antigos que querem minar a minha tranquilidade. E o saco enche e, às vezes, demora a esvaziar. Entretanto, ninguém é de ferro e, se fosse, enferrujaria!

Relatei este estado de ânimo para um querido amigo meu a quem disse que estava com vontade de ir para um canto com um litro de whisky e um balde com gelo, e “encher a cara” total e completamente.

Estou com vontade de “cheirar fumaça de óleo diesel e me embriagar até que alguém me esqueça”, como prega, por outros motivos e outras circunstâncias, a canção do Chico Buarque. Entretanto, ele (o meu amigo) é muito prático, disse: isto é fácil porque o Jacke Daniell`s está em promoção no Big Lar.

A senha estava dada, bastava que se colocasse o plano em execução. Mas, pelo sim, pelo não, eu não dei curso de imediato ao plano etílico, que iria aliviar os sintomas do que estava sentindo, mas me deixaria de ressaca e fora de combate, por algum tempo.


Lembrei-me de Drumond que, num desses pântanos da vida, comovido com a lua e, influenciado por um bom conhaque, escreveu o poema Sete Faces: ... “Mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, não seria uma rima, mas uma solução... Meu Deus, porque me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco...

E aqui, entre outras, tenho uma grande frustração: decorar e declamar poemas que eu gosto. Sou capaz apenas de memorizar fatos e datas históricas, trechos de livros que leio e músicas que gosto, mas dos poemas a minha mente só retém a beleza de trechos e retalhos. Um dos poemas que mais aprecio é o belíssimo Monólogo das Mãos de Montaigne declamado por Bibi Ferreira (Google).

Como não se vive sem uma pedra no meio do caminho - lá vem Drumond de novo - eu gostaria de mandar os incômodos e os perrengues que me perseguem diária e insistentemente a p.q.p., pois a maioria deles não vale um “pequi ruido”, adiando o meu fatal encontro com Baco - o Deus do vinho, das festas e da folia - deixando você, meu caro leitor, em companhia da genialidade do referido poeta:

SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,

Meu Deus, porque me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração...

Renato Gomes Nery é advogado.



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