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Trilhos Podem Desviar de Curso
“A ferrovia chegará à Cuiabá?”. Pergunta apropriada. Sobretudo depois do termo de compromisso assinado pelo governador mato-grossense, Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) e a empresa federal Valec. Notícia de primeira página, manchete em programas radiofônicos e televisivos, além de ocupar espaços de sites e blogs. Oxigenando, assim, as esperanças. Pois se trata de um antigo sonho – de gerações inteiras, não de apenas uma única família de certo político. Jamais, no entanto, se devem fechar as portas da razão. Principalmente neste caso. Daí a importância da questão no início deste parágrafo, que chegou a esta coluna via e-mail.
Por certo, o dito missivista não se deixou levar cegamente pela publicidade na mídia, e fez muito bem. Outrem, em épocas distintas, se decepcionou. Confiou demais, sem desconfiar. Talvez, em razão da certeza daquilo que os trilhos podem trazer: empregos, barateamento dos custos de produtos e mais negócios, cujos resultados não poderiam ser outros senão progresso e desenvolvimento. Rosário que se vê e ouve hoje.
Ninguém duvida das vantagens da estrada de ferro. Duvida-se, quase sempre, das promessas de políticos. Aliás, foram graças a eles que ainda não se tem uma ferrovia por aqui, a despeito da vontade das gerações de mato-grossenses que se sucederam ao longo de quase trezentos anos. Os parlamentares foram ineficientes e nada habilidosos na defesa dos interesses do Mato Grosso e de seu povo. Mudaram-se as fotografias no mural das bancadas. Porém, a incapacidade e a fraqueza nos argumentos continuam presentes. Bem mais agora do que ontem, quando se achava que o Estado contava com grandes oradores, e às vezes se tinha mesmo, porém estes eram “engolidos” pelos representantes de regiões com maior poder de barganha.
Detalhe relevante em quaisquer análises. Sobretudo quando se tem como norte o federalismo implantado no país. Diferenciado dos demais. Isso, entretanto, não diminui o peso da culpa dos políticos mato-grossenses por Cuiabá continuar sem uma ferrovia. Verdade escamoteada pelo discurso do endeusamento de certo político na defesa dos trilhos para a “Cidade Verde”. O que “vende” a idéia de que no Estado só teve apenas um projeto de estrada de ferro, e este é o do tal senador.
Inverdade que encobre todo o quadro de lutas. Inclusive da gente simples – distanciada dos centros de decisões locais, regional e federal.
Na verdade, vários foram os projetos nesse sentido. O mais importante deles foi o realizado pelo engenheiro Francisco José Gomes Calaça, em março de 1876. Talvez até melhor fundamentado do que aquele - redesenhado por diversas vezes - que se concretizou na linha férrea que corta parte do Mato Grosso do Sul, sem se estender até o Mato Grosso.
De lá para cá, as necessidades do Estado exigiram, e cobram mais e mais uma ferrovia. Modalidade descartada. Pelo menos até recentemente, quando novamente se têm oxigenadas as esperanças, uma vez que os trilhos se dirigem para Rondonópolis, e desta “deve se estender à Capital”, conforme o dito “termo de compromisso”. Compensa, contudo, não acreditar piamente nessa possibilidade, pois já se viu, por aqui, acordos deixarem de ser cumpridos e trilhos, desviarem de curso.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Por certo, o dito missivista não se deixou levar cegamente pela publicidade na mídia, e fez muito bem. Outrem, em épocas distintas, se decepcionou. Confiou demais, sem desconfiar. Talvez, em razão da certeza daquilo que os trilhos podem trazer: empregos, barateamento dos custos de produtos e mais negócios, cujos resultados não poderiam ser outros senão progresso e desenvolvimento. Rosário que se vê e ouve hoje.
Ninguém duvida das vantagens da estrada de ferro. Duvida-se, quase sempre, das promessas de políticos. Aliás, foram graças a eles que ainda não se tem uma ferrovia por aqui, a despeito da vontade das gerações de mato-grossenses que se sucederam ao longo de quase trezentos anos. Os parlamentares foram ineficientes e nada habilidosos na defesa dos interesses do Mato Grosso e de seu povo. Mudaram-se as fotografias no mural das bancadas. Porém, a incapacidade e a fraqueza nos argumentos continuam presentes. Bem mais agora do que ontem, quando se achava que o Estado contava com grandes oradores, e às vezes se tinha mesmo, porém estes eram “engolidos” pelos representantes de regiões com maior poder de barganha.
Detalhe relevante em quaisquer análises. Sobretudo quando se tem como norte o federalismo implantado no país. Diferenciado dos demais. Isso, entretanto, não diminui o peso da culpa dos políticos mato-grossenses por Cuiabá continuar sem uma ferrovia. Verdade escamoteada pelo discurso do endeusamento de certo político na defesa dos trilhos para a “Cidade Verde”. O que “vende” a idéia de que no Estado só teve apenas um projeto de estrada de ferro, e este é o do tal senador.
Inverdade que encobre todo o quadro de lutas. Inclusive da gente simples – distanciada dos centros de decisões locais, regional e federal.
Na verdade, vários foram os projetos nesse sentido. O mais importante deles foi o realizado pelo engenheiro Francisco José Gomes Calaça, em março de 1876. Talvez até melhor fundamentado do que aquele - redesenhado por diversas vezes - que se concretizou na linha férrea que corta parte do Mato Grosso do Sul, sem se estender até o Mato Grosso.
De lá para cá, as necessidades do Estado exigiram, e cobram mais e mais uma ferrovia. Modalidade descartada. Pelo menos até recentemente, quando novamente se têm oxigenadas as esperanças, uma vez que os trilhos se dirigem para Rondonópolis, e desta “deve se estender à Capital”, conforme o dito “termo de compromisso”. Compensa, contudo, não acreditar piamente nessa possibilidade, pois já se viu, por aqui, acordos deixarem de ser cumpridos e trilhos, desviarem de curso.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/571/visualizar/
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