Como a endometriose pode afetar a saúde mental das mulheres
Iniciamos o ano de 2024 com a campanha Janeiro Branco, que visa alertar para os cuidados com a saúde mental e emocional da população, a partir da prevenção das doenças decorrentes do estresse, como ansiedade, depressão e pânico. A endometriose é uma doença crônica que afeta aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva, resultando em perda significativa da qualidade de vida. Ela é caracterizada pelo crescimento do tecido endometrial fora do útero, em locais como os ovários, trompas, bexiga e intestino, podendo causar dor intensa, dismenorreia, dispareunia, dor pélvica crônica e infertilidade.
A ansiedade, o estresse e os outros distúrbios emocionais interferem negativamente nos quadros de qualquer dor crônica, como é o caso da endometriose. Numa perspectiva física, um corpo estressado e ansioso torna-se incapaz de regular adequadamente os processos inflamatórios do organismo. Já na perspectiva emocional, a ansiedade e o estresse também alteram negativamente a percepção que as mulheres têm da dor e também de si mesmas. Os dois cenários estão diretamente ligados à ocorrência e manutenção de quadro de depressão e outras doenças emocionais.
Do momento em que vivencia os primeiros sintomas, da busca e descoberta do diagnóstico até tratamento e prognósticos, a mulher com endometriose vive um mix de sentimentos: medo, irritação, insegurança, raiva, desespero… Esses sentimentos podem desencadear distúrbios emocionais graves. Por isso, é importante que a endometriose e as mulheres portadores desta doença sejam compreendidas sobre um novo olhar mais humanizado e multidisciplinar.
É comum que haja um enfoque maior nas consequências físicas ocasionadas por essa doença.
Assim como em outras doenças, o suporte emocional é muito importante para a mulher que convive com a endometriose. Para a paciente, é importante que a família entenda que se trata de uma doença que causa dores fortes, desconforto e que pode deixar a mulher desanimada e até mesmo sem interesse nas suas atividades diárias.
Embora não seja uma doença fatal, a endometriose pode acarretar em diversos efeitos psicológicos negativos, sendo extremamente necessário para o seu tratamento a compreensão de seu aspecto emocional. Estudos mostraram que a prevalência de quadros de depressão é maior em pacientes com doenças crônicas, sendo que mais de 80% das mulheres portadoras de endometriose com dores frequentes e regulares haviam desenvolvido um quadro de depressão.
Toda doença pode ser agravada por efeitos psicológicos, interferindo negativamente no tratamento da doença. No caso da endometriose não é diferente. Mulheres que estão com a saúde mental prejudicada por causa da doença acabam tendo menor adesão ao tratamento e demoram mais para buscar um médico especialista. Além disso, a mulher que recebe atendimento psicológico se sente mais segura para buscar ajuda e realizar o tratamento, tendo mais segurança para enfrentar dificuldades e possíveis consequências da doença.
É importante que a rede de apoio esteja ciente dos impactos físicos e emocionais causados. Fazer com que entendam que não é “só uma cólica” ou “frescura” para fortalecer a sua rede de apoio e as redes de outras mulheres. A doença pode ter um impacto significativo nas relações sociais e profissionais das mulheres, pois como a dor é um dos principais sintomas está pode vir a ser incapacitante, muitas mulheres não conseguem trabalhar e participar de atividades sociais, o que pode levar a problemas financeiros e isolamento social. É evidente também que o trabalho do psicólogo no acompanhamento dessas pacientes é de extrema relevância, visto que assim estes podem trabalhar de modo que o sofrimento e angústia sejam amenizados e a qualidade de vida seja elevada.
Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium, em Cuiabá (MT).
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