Quarenta anos atrás O movimento das Diretas Já foi o empurrão final para a mudança
No dia 25 de janeiro foi aniversário de 40 anos do enorme comício em São Paulo que deu força ao movimento que sacudiu o Brasil, chamado Diretas Já. Sacudiu mesmo. Uma proposta, apresentada por um deputado federal de Mato Grosso, Dante de Oliveira, para que se tivessem eleições livres e diretas para presidente.
Estava o país em plena ditadura militar que começara lá atrás, em 1964, com a derrubada do governo João Goulart. Os presidentes do país, todos militares, eram escolhidos num fantasioso colégio eleitoral, não em eleição e pelo povo. Os generais escolhiam um nome e o apresentava para ser “eleito” naquele curralinho criado pelo sistema.
O regime militar já estava com problemas na área econômica. Lá atrás, com apoio norte-americano, se teve até algum crescimento econômico.
Depois que passou o receio dos EUA de se ter aqui, ou em outros lugares da América Latina, governos de esquerda em plena Guerra Fria, esse tipo de ajuda, direta ou através de instituições financeiras que os norte-americanos tinham mando, a coisa começou a complicar para os militares no governo.
O movimento das Diretas Já foi o empurrão final para a mudança. Havia um descontentamento social, mas que nunca fora mostrado de maneira clara e contundente.
Teve naquele momento um comício na Praça da Sé com participação de uma multidão de pessoas. Isso em plena ditadura. Foi uma grande surpresa, o povo começava a se mostrar contra o governo militar.
Comícios ocorreram em muitos lugares do país, inclusive em Cuiabá, com uma participação enorme de muita gente. O sistema foi ficando encantoado. E que fez aparecer isso de forma clara foi a Diretas já.
A proposta de eleição direta foi derrotada por pequena diferença no Congresso. Melhor seria dizer que saiu vitoriosa perante o povo a ideia de mudar o sistema e se ter eleição direta para presidente.
Aquele impulso dado pelo movimento Diretas Já fez aparecer lideranças politicas trabalhando nessa direção, nomes como Ulisses Guimarães, Leonel Brizola, Tancredo Neves, Pedro Simon, Mario Covas, FHC, Franco Montoro e outros.
Também começa a ter defecções de políticos que apoiaram o regime militar e, vendo a reação popular com as Diretas Já, começaram a deixar o barco que usaram por anos. José Sarney foi um deles.
Como um tsunami politico, com o povo dando suporte e sem ajuda externa, o regime militar ficou sem reação e vai abrindo espaço para a volta de eleições diretas e a democracia no país que fora enterrada desde 1964.
Chega à eleição, também indireta, de Tancredo Neves e Sarney na vice. Tancredo morre na véspera de tomar posse e um politico do antigo sistema assumiria a presidência.
Mas, independente disso, o que fez achegar àquele momento foi o movimento das Diretas Já. Foi povo na rua que encantoou o sistema e tiveram que entregar o governo depois de 21 anos de ditadura militar. E tem gente hoje que, sem conhecer a doída história daquele momento, defende a volta de algo que nunca deveria ter existido.
Alfredo da Mota Menezes é analista político.
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