Uma noite no teatro “A primavera de Dante” é uma indispensável contribuição ao futuro
A convite do deputado Carlos Avalone, seu idealizador, assisti o lançamento do filme “A primavera de Dante”, no Teatro Zulmira Canavarros, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
Gostei muito do documentário que descreve o início da trajetória política de Dante de Oliveira, desde a sua infância em Cuiabá e militância no movimento estudantil no Rio de Janeiro até a sua extraordinária projeção como liderança nacional, na qualidade de autor da proposta de emenda constitucional que, em 1984, mobilizou milhões de brasileiros no movimento pró-democracia e por eleições diretas para presidente da República.
Como já tive a oportunidade de relatar em outros artigos, nessa época eu era um jovem vereador na Câmara Municipal carioca e pude participar de vários eventos pelas Diretas-Já ao lado de Dante, Brizola, Ulisses, Tancredo, Lula, Arraes, Montoro, entre tantos outros destacados líderes políticos unidos pelo ideal democrático. Foi um movimento ímpar em nossa história. Cívico, pacífico, multipartidário e suprapartidário. Em milhares de municípios brasileiros realizaram-se reuniões, debates, manifestações e comícios reunindo um número incalculável de brasileiros de todas as gerações e religiões, sem que houvesse um único episódio de violência ou depredação do patrimônio público. Todos unidos pela volta da democracia.
Os adeptos e beneficiários da então vigente ditadura assistiam estupefatos ao seu acelerado apodrecimento nas praças públicas de todo o Brasil. Articulando-se em desespero, conseguiram no Congresso Nacional impedir a vitória das diretas, mas logo foram derrotados no Colégio Eleitoral com a eleição de Tancredo Neves.
Tudo isso revivi com muita emoção ao assistir o documentário e ouvir os belos pronunciamentos das autoridades presentes no teatro. Parabenizo toda a equipe responsável pelo filme e pela cerimônia de lançamento. Resgatar e perenizar a memória de um movimento tão importante e do papel de uma de suas maiores lideranças, mais do que uma merecida homenagem ao passado é uma indispensável contribuição ao futuro.
Entre os presentes naquela noite no teatro cuiabano, havia muitos jovens que não tiveram a experiência de viver sob um regime autoritário, alguns até que, muito recentemente, em triste contradição, se alinharam com ativos prosélitos daquela ditadura que Dante e nós combatemos, gente que sem nenhum pudor reverencia torturadores e despreza os direitos humanos.
Espero que assistir ao filme lhes tenha inspirado alguma reflexão e, quem sabe, uma benvinda conversão aos ideais democráticos preconizados pelo homenageado da noite.
Espero também que “A primavera de Dante” seja um estímulo para a emergência de novas lideranças e lutas pelo fortalecimento e constante aprimoramento de nossa democracia.
Luiz Henrique Lima é professor e escritor.
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