Pensando em Cuiabá Minha cidade possuía diversos jornais impressos; havia um de nome: ‘Correio da Imprensa’
Depois do almoço familiar pré-natalino, com a ausência zero de seus integrantes, fui à soneca.
Despertei disposto. Não tendo o que fazer, pus-me a pensar na Cuiabá antiga.
Minha cidade possuía diversos jornais impressos. Lembro dos anos 60 e 70, indo até o início de 80. Havia um que trazia este nome: ‘Correio da Imprensa’.
Seu proprietário era um cearense arretado, que parou por aqui como representante comercial.
Jovem, solteiro e elegante, logo se meteu com a elite da boemia cuiabana.
Vestia-se sempre de branco, com tecido que vinha de sua cidade natal.
Perfumado, barba feita. Tinha como companhia o inseparável cigarro.
Frequentava bares da moda e ‘boates’ da ocasião. Certo dia, ‘montou’ um jornal de ‘oposição’, forte a tudo que fosse governo.
Seus amigos escritores pertenciam à esquerda. O bastante para que nosso ‘jornalista’ os contratasse.
Arregimentou os melhores jornalistas da cidade. Ainda hoje, quantos são lembrados com saudades. Jorrou-lhes uma mina de dinheiro.
Sim, alcançou o sucesso. O ‘Correio da Imprensa’ se fez conhecido como o ‘jornal do Maia ou do Jota Maia’.
Pessoas, estabelecimentos comerciais, ruas e praças — na Cuiabá de meus avós — eram conhecidos por apelidos. Os dez filhos do meu avô, cada um ostentava o seu.
Retornei à minha cidade natal no final de 64 e, de um nada, conheci o ‘temido jornalista’ Maia.
O governador, na época, era um jovem engenheiro. Veio de Miranda: Pedro Pedrossian. Ao conhecer a fama do Maia, dele se tornou logo amigo.
Quando o Pedro precisava divulgar matéria do interesse de seu governo, convocava o Maia ao gabinete, no Palácio.
Fui apresentado a ele. Uma amizade que só findou com sua morte! Todos os anos, sem faltar a nenhum, Maia me telefonava na noite de 24 e 31 de dezembro.
Já cansado da boemia, resolveu se casar. Pedro e eu — secretário de educação — fomos-lhe os padrinhos.
Uma vez houve em que ele me perguntou se Regina e eu já tínhamos saboreado uma legítima ‘buchada’.
A sua irmã, que veio lá do Ceará, foi a encarregada de preparar o quitute.
Com um calor aprazível — só 40 graus! —, não resisti à tentação e me empanturrei. Até hoje, a buchada não me sai da cabeça… Regina, bem esperta, nem se atreveu a prová-la.
Não me perguntem, em nome da amizade, as vezes em que jornal do Maia foi empastelado. E ele preso!
É Natal!
Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT.
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