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Opinião
Sexta - 05 de Abril de 2024 às 00:16
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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A experiência da angústia é uma faceta inerente à condição humana, uma sombra que paira sobre todos enquanto se navega pelos labirintos da existência.

Desde os tempos antigos até os atuais, filósofos e pensadores têm explorado essa emoção complexa e enigmática, buscando compreender suas origens, seus efeitos e seu significado último.

A angústia surge quando se confronta com a finitude da vida, a incerteza do futuro e a inevitabilidade da morte. É um eco da consciência de da própria existência, uma sensação de vazio e desamparo diante do abismo do desconhecido. O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard descreveu a angústia como uma "tontura da liberdade", um temor diante das infinitas possibilidades que se estendem diante de todos.

Esse sentimento também está ligado à busca por sentido e propósito na vida. O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre argumentou que o homem e a mulher estão condenados à liberdade, obrigados a fazer escolhas em um mundo sem sentido intrínseco. Essa liberdade angustiante se coloca diante da responsabilidade de criar o singular significado na vida, uma tarefa assustadora e desafiadora.


Albert Camus, filósofo existencialista, abordou o tema da angústia e do absurdo da existência em sua obra, especialmente em seu ensaio "O Mito de Sísifo". Para Camus, a angústia surge da consciência do absurdo da vida, da percepção de que o mundo é irracional e indiferente aos desejos e aspirações humanas.

Segundo esse pensador, o ser humano busca sentido e significado em um universo que é essencialmente absurdo e sem propósito. A angústia surge quando há confronto dessa realidade com a percepção de que as tentativas de encontrar significado são em vão. Para ele, a vida é como uma pedra que Sísifo, na mitologia grega, é condenado a rolar montanha acima, apenas para vê-la rolar de volta ao vale, e recomeçar num ciclo interminável e sem sentido.

Entretanto, Camus não vê a angústia como uma razão para o desespero ou para o niilismo. Pelo contrário, ele argumenta que a consciência do absurdo pode ser libertadora, pois permite confrontar a vida de frente, sem ilusões ou falsas esperanças. Em vez de buscar um sentido transcendental ou uma ordem cósmica, deve-se aceitar o absurdo e encontrar significado na própria experiência humana, na busca pela liberdade e na criação dos próprios valores e propósitos.

Assim, a angústia não é apenas um fardo a ser suportado, mas também uma oportunidade para a autenticidade e a realização pessoal. Ao aceitar o absurdo da existência e abraçar a liberdade, pode-se encontrar uma espécie de felicidade trágica, uma "alegria revoltada" que surge da própria consciência do absurdo e da coragem de viver em meio a ele.

A angústia é uma parte inextricável da condição humana, uma resposta natural às tensões e contradições da vida. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche explorou o conceito de "niilismo" (conceito particular de niilismo), a percepção de que a vida é essencialmente sem sentido ou valor. No entanto, Nietzsche viu na angústia uma oportunidade para transcender as limitações da existência humana e afirmar a vontade de poder.

Enquanto alguns podem ser consumidos pela angústia, outros encontram maneiras de enfrentá-la e até mesmo abraçá-la como uma fonte de crescimento pessoal. O neuropsiquiatra vienense Viktor Frankl, sobrevivente a quatro campos de concentração nazista, argumentou que se pode encontrar significado mesmo nas circunstâncias mais extremas, sejam elas quais forem. Ele desenvolveu a terapia do sentido, que enfatiza a importância de encontrar propósito e significado na vida como uma forma de superar a angústia existencial.

A angústia existencial é uma parte inevitável e intrínseca da jornada humana, uma sombra que persegue enquanto se caminha pelos caminhos tortuosos da vida. No entanto, ao enfrentar essa angústia de frente, descortina-se uma profundidade de compreensão e autenticidade que enriquece a experiência e capacita a abraçar a plenitude da vida, com todas as suas alegrias e tristezas, como uma oportunidade para crescimento, transformação e autoconhecimento.

É por aí...

Gonçalo Antunes de Barros Neto é juiz.



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