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Opinião
Quinta - 11 de Abril de 2024 às 05:37
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Quantas histórias lindas de mulheres guarda a nossa Cuiabá! Desde a tenra idade pude ouvir “causos” sobre tantas, tendo visto e ouvido algumas com mais proximidade.

Cuiabá não é a minha terra natal. Sou cuiabana de alma e coração, de onde orgulhosamente fui reconhecida por um título. Todavia, por aqui estou desde criança. Por aqui, fui acolhida, cresci, estudei, casei, e me tornei mãe. Sinto imensa admiração por tudo que tive o prazer de vivenciar na nossa “Cidade Verde”.

No Araés, passei pelas mãos da Dona Beleca, exímia benzedeira, e que fazia lindíssimas orações. Muita caridade! A casa da Dona Beleca, de esquina, entrando na Avenida do CPA, era palco diuturno de mãezinhas com crianças no colo para que passassem pelas folhinhas e orações.

Íamos, em família, sempre à Casa do Artesão. Por lá conheci o artesanato cuiabano, onde era possível vislumbrar: as redes ornamentadas, muitas vezes com motivos pantaneiros; as violas de cocho; os doces de caju e furrundu que ditam sabores, juntamente com o bolo de arroz, o bolo de queijo, o pixé, o guaraná ralado, e o francisquito; as cabaças desenhadas e polidas garantiam a graça.


Foi em São Gonçalo que a cerâmica ganhou cores e formas, com peças cheias de graça a enfeitar as casas cuiabanas e do mundo todo. Na atualidade, alguns nomes de mulheres ceramistas de Cuiabá merecem ser lembradas: Anailde Gomes; Cleide Rodrigues; Iraci Laccal Gomes; Jac Barroso; Nice Aretê; Ludmila Brandão; Mariza Mendes Fiorenza; Patty Wolf; Regina Lucia Ortega Calazans; Rosylene Pinto; Tula Kirst. Nas artes expostas em Cuiabá, as mãos de mulheres de muitas gerações são instrumentos a não permitirem o esquecimento.

Antes dos shoppings, os passeios para compras em Cuiabá incluíam a Avenida Prainha, centralmente aberta, tal como ainda é hoje o Córrego do Barbado. Após as compras, uma parada na Igreja Matriz ou na São Benedito era de “lei”, terminando o perambular.

Diante de tantas donas “Fias” aqui da capital, lembro-me da Dona Fia do Poção. Responsável, junto com o marido, “Seo Gonçalo”, por um “bulixo” no estilo “secos e molhados”, era portadora do sorriso mais carinhoso a entregar docinhos para as crianças do local. De lá sempre foi o sustento familiar, com o qual criaram e educaram quatro filhas.

A primeira grande gráfica de Cuiabá, na Getúlio Vargas, surgiu pelas mãos da “Dona Nicinha”, a Gráfica Eunice. Mulher de extrema visão, empregou pessoas, marcou época, e foi uma das responsáveis por abrir espaço para o importante ramo em terras mato-grossenses.

Na década de 80, em festas de santo, as visitas eram muito esperadas da Bandeira do Divino. Com ela, a presença ilustre da simpática e afável Constança Figueiredo Palma, a Dona Bem-Bem, a distribuir pãezinhos a abençoar aquelas e aqueles que fossem agraciados com um pequeno exemplar.

Atualmente, na dança, pelas mãos da querida Dona Domingas, o Siriri floresce, através do grupo “Flor Ribeirinha”. As mulheres se apresentam em graciosas saias coloridas e rodadas, que com os pés descalço entoam o chacoalhar corporal, para que os maus espíritos possam ser afastados, com origem na tradição indígena.

Cresci ouvindo que Cuiabá é uma capital, com “status” de cidade interiorana, graças ao acolhimento amoroso, e, ainda, pelas faces facilmente identificáveis. Por aqui, na terra de “May”, de “Senhorinha Alves”, de “Maria Taquara”, da “Professora Ruth Marques”, de “Zulmira Canavarros”, de “Dunga Rodrigues”, de “Bernardina Rich”, da “Professora Leuby”, da “Professora Isabel Campos” e tantas outras, as mulheres fazem história.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.



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