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Opinião
Quinta - 25 de Abril de 2024 às 00:12
Por: Regiane Freire

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Uma mulher levou seu tio idoso até uma agência bancária em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, para sacar R$ 17.000,00 (dezessete mil reais), enquanto ele permanecia sentado em uma cadeira de rodas e morto.

O caso provocou assombro àqueles que assistiram às filmagens da mulher segurando a cabeça do cadáver, enquanto encenava ordinariamente que o idoso manifestava vontade do empréstimo, mas estava com dificuldades em assinar a documentação.

Graças aos funcionários do banco, desconfiados de que algo de errado estava acontecendo, acionaram o socorro e a mulher foi presa em flagrante, onde responderá por suspeita de vilipêndio de cadáver (tratar com desprezo e sem devido respeito o cadáver) e furto. A defesa alega que o idoso chegou vivo à agência bancária e que sua sobrinha sofre de transtornos psiquiátricos, o que justificaria tal ação.

No entanto, o ponto crucial não é saber se o idoso saiu com vida de casa e faleceu no caminho. O que choca é a falta de sensibilidade da sobrinha, que se dizia “cuidadora” do tio, agir friamente com a única intenção de pegar o que não era seu, demonstrando insensibilidade aguda ao próximo e indiferença ao sentimento alheio.


Fatos assim chocam pela crueldade com que o criminoso trata a vítima e fazem pensar sobre como esse tipo de comportamento é possível. O que leva alguém a não ter empatia e agir de modo sádico com outro ser humano?

Há duas posições opostas que tentam explicar as razões da violência. De um lado, defende que o comportamento cruel é uma questão de caráter. O indivíduo nasce ruim e, por isso, seria irrecuperável. Do outro lado, defende que os indivíduos violentos são vítimas do ambiente em que cresceram, traumatizados por uma sociedade desigual. Pesquisas recentes mostram que a crueldade é um comportamento que exige uma série de fatores que se originam apenas no cérebro humano. [1]

Nem a genética e nem o ambiente explicam 100% a origem do mal. Até porque, nem todos que passam por situações traumáticas desenvolvem algum tipo de comportamento antissocial. Muitas pessoas superam seus problemas, usando o trauma como propulsor para sair daquela situação.

Mesmo que a ciência tente explicar o que leva uma pessoa ser cruel, essas conclusões não retiram a responsabilidade por seus atos. Por mais que existam fatores genéticos e ambientais que possam influenciar algum tipo de comportamento agressivo, o indivíduo é livre para agir.

O ser humano é complexo e não dá para simplificar crimes macabros em fatores psiquiátricos, como forma de retirar a responsabilidade e responder criminalmente por seus atos. Cenas assim eram coisas de filme de ficção ou comédia. Mas quando se traz para o mundo real, o que parecia ser “coisa de filme”, não tem a menor graça. É a apresentação do mais puro horror do ser humano.

Regiane Freire é advogada

[1]https://veja.abril.com.br/ciencia/a-ciencia-pode-e...



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