A história de uma estrada
Mudei-me para Juara em 1984: aquilo era um Éden! A terra prometida, no sentido de que era tão grande o fluxo de novas famílias para lá, que todos tínhamos a certeza de que, com trabalho e afinco, iríamos ter estabilidade financeira.
Àquela época, o prefeito do município – o primeiro a ser eleito pelo voto democrático popular – era o atual presidente da Assembleia Legisaltiva de Mato Grosso, deputado Zé Riva. E acrescento que, quem o conheceu como prefeito, não se impressiona nem se admira de todas as brigas e lutas e bandeiras que ele assume há anos como deputado estadual. Desde sempre Riva teve esse caráter assim brigador, mas foi como prefeito de um município tão carente e distante do centro político de Mato Grosso, que adquiriu essa consciência municipalista que carrega até hoje.
Pois bem: em 1984, a gente chegava a Juara pela Estrada da Baiana. Eu mesma, completei a viagem de Cuiabá a Juara em noite avançada, com um trator de esteira na frente do carro terminando de abrir um trecho da estrada para nos dar passagem – coisa que parece mentira, quando me lembro. Antes disso, muitos chegaram a Juara por barco, desembarcando ali em Porto dos Gaúchos e completando a viagem da mudança pela estrada.
O aumento significativo de moradores em Juara, Porto e Novo Horizonte, pediam uma estrada decente: o fluxo de mudanças, o fluxo de mercadoria, a necessidade de transporte para doentes não comportavam mais que levássemos até 24 horas para completar o trecho existente entre Juara e Cuiabá. Mas o tempo foi passando, e nada de asfalto na Baiana. E o mais interessante: na época das campanhas eleitorais, os candidatos que chegavam com seu palanque à cidade, nos perguntavam: “onde é a estrada asfaltada que consta no mapa, e que não encontramos prá chegar aqui?”.
Era uma luta pelo tal asfalto. Mas estou falando de luta, de verdade. Riva prefeito brigando em todas as instâncias pela obra. O prefeito que o sucedeu também tentou e tentou – e olhe que esse prefeito foi Zé Paraná, que então era respeitado nacionalmente pelo belo trabalho de colonização da Amazônia mato-grossense! Mas...nada de asfalto!
Só quando conseguimos eleger um deputado da região, a situação começou a mudar: Zé Riva veio para o Legislativo defender as nossas causas. Mas só ‘começou’ a mudar, porque pleito após pleito, Riva conseguia asfaltar 15 quilômetros...depois mais 30 quilômetros...e assim, durante anos, conseguiu interligar as três cidades do Vale do Arinos, e chegar com o asfalto até o entroncamento da estrada que ia para Sinop. Puxa vida...quase duas décadas depois, tínhamos lá nossos quase 60 quilômetros de asfalto, que inteligentemente, foram feitos de lá para cá, e não daqui para lá – senão, ainda hoje, o povo do Vale do Arinos levaria 4, 5 horas de estrada para andar os 50 km de estrada que separam Juara de Porto dos Gaúchos.
Aos poucos, o asfalto foi saindo ali pelo município de Tapurah – um trechinho aqui, saltam alguns quilômetros, outro trechinho ali... Em Itanhangá, foi mais ou menos assim também...de trecho em trecho, enfim, o Estado e os produtores organizados em Consórcios, foram pintando de preto a Estrada da Baiana.
Um dia, sai o asfaltamento de Cuiabá a Juína. De novo, nossos produtores se consorciam e conseguem, em parceria com o Estado , fazer a Estrada do Vale. E, finalmente, o povo do Vale do Arinos, consegue chegar a Cuiabá pelo asfalto! Tá certo que a volta é maior – mas os mais de 100 quilômetros que a gente tem que andar a mais, compensam pelo fato de serem asfaltados. Mas afinal, por que nunca saía o asfalto da Baiana? Essa sim, a estrada-mãe, a que nos liga à Capital através de um trecho menor, essa que corta cinco municípios da região noroeste, que são grandes produtores de grãos e carne de Mato Grosso?!
A luta de Riva – esse deputado que é um verdadeiro divisor de águas para o Estado, definindo claramente o esquecimento do passado e a presença do presente -, continuou, e deu no que deu: enfim, Mato Grosso topou se aliar à classe produtora e aos prefeitos, levando para o povo da região sua maior e mais antiga reivindicação: o asfalto da Estrada da Baiana!
Quem ganhou com isso? É óbvio que foi a população que há mais de três décadas esperava pelo benefício. Essa população que vira e mexe tem que sair de lá, de ambulância, buscando tratamento em Cuiabá. Essa população que, constantemente, tem que comercializar sua enorme produção de carne, de madeira, de grãos, de artesanato. Essa população que deixou, há muitos anos, as grandes e confortáveis cidades, buscando melhores dias para si e sua família, nesse distante noroeste mato-grossense, nessa Amazônia que reluz promessas mas que por tantos anos, fez de todos um bando de esquecidos.
Felizmente, a intervenção de José Riva e o olhar também municipalista do governador Silval Barbosa, garantiram, neste 14 de junho, mais 37 quilômetros de asfalto para este ano e os restantes 123 quilômetros para até 2013. Enfim, a história desta estrada vai ter um final feliz!
*Tânia Arantes, é jornalista e professora
Comentários