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Opinião
Segunda - 27 de Maio de 2024 às 00:03
Por: Neila Barreto

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Um amador “sem fio”. Possuidor do único rádio em Cuiabá, estava sempre atento às informações ocorridas na cidade. Foi apelidado pelo historiador Rubens de Mendonça de “O Boateiro”. Filho de João Gomes Monteiro Sobrinho e de Almerinda da Costa Teixeira. Estudou no internato denominado Colégio Batista, na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Na escola teve como colega Victor Starwiask.

Com esse amigo Deodato passou a dividir os seus anseios e as suas curiosidades. Ambos passavam horas e horas montando e desmontando pequenos rádios de galena e elétricos. Esta atividade passou a ser o seu “hobby”, nos momentos de descanso e de lazer. Seguiu em frente em seu objetivo.

Conforme o historiador Luis-Phillippe Pereira Leite, quando Deodato regressou à Cuiabá-MT e, após o seu casamento, em 1928 foi residir na Rua 13 de junho, centro da cidade, na capital, época onde Cuiabá só conhecia a telegrafia Morse, o qual ficava na agência dos Correios e Telégrafos e, em sua maioria das vezes parado, inoperante, por falta de um técnico – o rádio operador.

Deodato que era curioso e já possuía a habilidade de tanto treino realizado no internato escolar, encontrou em Antonio Lacerda, um telegrafista da capital, a oportunidade que tanto perseguia e, obteve os ensinamentos necessários para a sua mais nova profissão, por meio de um treinamento prático, iniciando assim o serviço de radiotelegrafia em Cuiabá.


Habilidoso, à época, por necessidade de serviços de comunicação construiu várias estações repetidoras e transmissoras de rádio, destinadas ao 16º Batalhão de Caçadores, à Polícia Militar do Estado e ao Palácio Alencastro, na época sede do governo do Estado de Mato Grosso.

Luis-Phillippe conta que, no período da intervenção em Mato Grosso, de Júlio Strubing Muller, Deodato Monteiro, com maestria, adaptou um modulador que transmitia música e voz, sendo captado em outros municípios de Mato Grosso.

Essa nova invenção oportunizou em 1934, a criação da Rádio Sociedade de Cuiabá, a qual foi constituída por José Barnabé de Mesquita – Presidente; João Ponce de Arruda – vice-presidente; Philogônio Paula Corrêa e Manoel Miraglia, secretários.

A nova tecnologia e inovação foi inaugurada em 18 de março de 1934, executada na onda de 32 metros e ouvida com satisfação aos poucos aparelhos receptadores existentes na capital e no interior de Mato Grosso. Nesse evento foram revelados os talentos, tais como, a belíssima voz do dr. Aurelino Pinto Botelho, exímias pianistas como Rosália Silva, Ada de Mattos e o violonista Eucário de Figueiredo, entre outros. Os aplausos vieram dos diversos locais onde o rádio conseguiu atingir.

Esse “Boateiro”, agora residindo na rua Cândido Mariano, no bairro Quilombo, em Cuiabá, um dia, ávido de informações, da sua janela, em alto e bom som, passou a noticiar, a deposição do atual governo e a implantação de uma junta militar de alta patente. Não deu outra. A notícia chegou aos ouvidos do então presidente do estado, dr. Aníbal Toledo e Deodato Monteiro foi preso nas dependências do Palácio Alencastro, na capital.

A prisão demorou só até ao entardecer quando a notícia chegou por meio de telegrama oficial ao dr. Toledo, dando conta das informações precisas de Deodato. Deodato foi solto e felicitado pela notícia divulgada, inclusive, pelo próprio presidente e pelo Coronel Sebastião Rabelo Leite, nomeado para substituir o governante mato-grossense. Ofícios de jornalista competente e corajoso.

Em 1932, Deodato Monteiro imprimia informações captadas por meio de boletins na revolução de 1932. Foi perseguido pela polícia tendo os seus rádios e outros existentes na cidade. Aprisionados. Deodato não se deu por rogado, montou um novo rádio e o escondeu dentro de urinol com tampa debaixo da sua cama. Dali continuava as suas comunicações.

Sempre empreendendo na área do rádio, em 1935, Deodato Monteiro se tornou o primeiro inscrito na recém-criada Liga de Amadores Brasileiro de Rádio Emissão, com a sigla LABRE, órgão oficial da categoria, com o prefixo PY-9-AF, como o primeiro radioamador mato-grossense, colocando Cuiabá em conexão com o mundo.

Em contato com o mundo, Deodato Monteiro, em 1936 montou para o professor Jercy Jacob o seu primeiro transmissor, em ondas curtas, que mais tarde recebeu o nome de “A Voz do Oeste”.

Era o embrião da rádio A Voz d`Oeste (RVO). Legalmente, ela passa a existir em 12 de dezembro de 1944, com o prefixo PRH-3. Até 1959, a RVO era a única opção para a sociedade cuiabana em relação ao rádio jornalismo.

A programação basicamente, era formada por programas Litero-musicais, onde se liam poemas, tocavam-se piano, violino e flauta, além dos discos doados pelos ouvintes. Apesar de noticiar os principais acontecimentos da cidade, como os discursos de políticos durante o estado Novo e, a vinda pela primeira vez a Cuiabá, de um presidente da República, Getúlio Vargas, em 7 de agosto de 1941, o primeiro jornal falado só surgiu em 1952.

Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.



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