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Opinião
Quinta - 15 de Agosto de 2024 às 00:06
Por: Giovana Fortunato

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A consulta ginecológica da adolescente, embora tenha diversos pontos em comum com a da mulher adulta, possui algumas peculiaridades que a diferencia, principalmente pelas diversas situações conflituosas vivenciadas pelos ginecologistas ao atendê-la, nas quais as normas estabelecidas se revelam insuficientes para responder com clareza algumas interrogações éticas, desafiando e, por vezes, confundindo a tomada de decisão. Somam-se ainda as dificuldades de alguns serviços de saúde e educação em assegurar os direitos sexuais e reprodutivos dessa clientela.


Existem também os conflitos de interesse entre elas e seus pais e/ou responsáveis, além dos diferentes marcos legais que determinam a entrada para a vida adulta, interferindo no direito à autonomia, privacidade, confidencialidade e ao exercício da sexualidade. O estabelecimento de uma boa relação médico-paciente, garantindo a privacidade, respeitando-se a confidencialidade, tem fundamental importância para o transcorrer de uma consulta bem-sucedida e consequente adesão ao tratamento e seguimento ginecológico adequados.

De acordo com um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), utilizando informações do Ministério da Saúde, verificou-se que, em 2020, o número de consultas médicas realizadas por adolescentes do sexo feminino, com idades entre 12 e 19 anos, foi 2,5 vezes maior do que o número de consultas médicas por adolescentes do sexo masculino da mesma faixa etária. No total, foram registrados 10.096.778 atendimentos para as adolescentes e4.066.710 atendimentos para os adolescentes do sexo masculino.

A questão da primeira consulta é uma preocupação comum nas consultas de ginecologia destinadas a crianças e adolescentes. A resposta a esse questionamento sempre dependerá do estado de desenvolvimento físico, emocional, do ambiente social e das necessidades individuais específicas da criança ou do adolescente. Não há um marco temporal específico, rígido, que determine a obrigatoriedade dessa consulta ginecológica, pois isso precisa respeitar e contemplar as demandas próprias de cada pessoa.

De forma mais abrangente, uma sugestão útil é que a primeira consulta ginecológica aconteça entre os 13 e 15 anos de idade, ou ainda no primeiro ano após a primeira menstruação, a menarca, que, geralmente, ocorre por volta dos 12 anos de idade. É sempre importante ressaltar que esse encontro deve ser antecipado diante de problemas de saúde específicos ou relacionados à sua saúde sexual e reprodutiva em meninas mais jovens.

O importante é que o cuidado com saúde ginecológica da criança ou da adolescente esteja acessível e disponível, tão logo essa necessidade seja percebida. O primeiro encontro com um ginecologista é uma oportunidade fundamental para estabelecer uma relação de confiança e respeito com adolescente. Durante essa consulta, torna-se interessante enfatizar ainda a importância de uma abordagem acolhedora, comunicação eficaz, competência cultural e cuidado centrado na paciente.

A privacidade e confidencialidade são garantidas, e incentivada a comunicação familiar. Do ponto de vista técnico, a ginecologista investigará a queixa principal, antecedentes pessoais e familiares, bem como fatores relacionados ao desenvolvimento físico, emocional, puberdade e ciclo menstrual. O exame físico será adaptado à idade e necessidades individuais da adolescente, considerando sua aceitação e disponibilidade. Isso determinará a extensão da avaliação dos órgãos genitais. É fundamental que as adolescentes consultem um ginecologista para assegurar sua saúde sexual e reprodutiva.

Alguns motivos clínicos que podem levar uma adolescente a buscar uma consulta ginecológica incluem

- Menstruação: para avaliar e discutir problemas relacionados ao ciclo menstrual, como irregularidades, dor intensa (dismenorreia),fluxo menstrual excessivo ou ausência de menstruação (amenorreia)
- Puberdade precoce ou tardia;

- Infecções genitais;

- Saúde sexual;

- Dores pélvicas;

- Gravidez na adolescência;
- Aconselhamento sobre saúde reprodutiva;

- Vacinas;

- Direitos sexuais;

- Prevenção e cuidados em situações de violência sexual;

A ativação dos hormônios sexuais, com destaque para o estrogênio, desencadeia uma série de transformações no corpo das meninas. Importante compreender que o momento e a velocidade dessas mudanças podem variar consideravelmente de uma adolescente para outra.

A puberdade é um estágio normal e saudável do desenvolvimento, mas pode vir acompanhada de desafios emocionais. Dentre as mudanças mais notáveis estão:

- Crescimento estatura
- Desenvolvimento mamário
- Crescimento de pelos, cabelo e pele oleosa
- Distribuição de gordura corporal
- Mudança de voz
- Desenvolvimento de órgãos sexuais

Estabelecer uma relação médico-paciente além do limite técnico, sustentada na confiança, criará a oportunidade para a exposição e orientações necessárias sobre os aspectos da saúde sexual e reprodutiva.

Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium, em Cuiabá (MT).



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