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Opinião
Quarta - 11 de Setembro de 2024 às 00:47
Por: Laerte Basso

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O endometrioma é um tipo de cisto ovariano formado a partir de tecido endometrial, que é o revestimento interno do útero. Esta condição é frequentemente associada à endometriose, uma doença ginecológica que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. Embora o endometrioma seja benigno, ele tem sido alvo de estudo devido à sua potencial relação com o câncer de ovário, especialmente certos tipos histológicos. Este artigo explora a conexão entre o endometrioma e o câncer de ovário, oferecendo uma visão abrangente sobre os riscos e as implicações clínicas.


O endometrioma, também conhecido como cisto endometriótico, ocorre quando o tecido endometrial, normalmente encontrado no útero, cresce nos ovários. Esses cistos são preenchidos por um material espesso e escuro, muitas vezes chamado de "cisto de chocolate" devido à sua aparência. O endometrioma pode causar dor pélvica, dismenorreia (dor durante a menstruação), e em alguns casos, infertilidade.

Já o câncer de ovário é uma das formas mais agressivas de câncer ginecológico, frequentemente diagnosticado em estágios avançados devido à ausência de sintomas específicos nas fases iniciais. Existem vários tipos histológicos de câncer de ovário, sendo os mais comuns os carcinomas serosos, mucinosos, endometrióides e de células claras.

Fatores de risco conhecidos para o câncer de ovário incluem idade avançada, histórico familiar de câncer de ovário ou de mama, mutações genéticas como BRCA1 e BRCA2, nuliparidade, e uso prolongado de terapia hormonal pós-menopausa.

Estudos têm sugerido uma associação entre endometriomas e um risco aumentado para certos tipos de câncer de ovário, particularmente o carcinoma de células claras e o carcinoma endometrioide. Essa relação, embora não esteja totalmente esclarecida, levanta preocupações sobre a possibilidade de transformação maligna dos endometriomas.

O endometrioma, sendo uma manifestação da endometriose, está associado a uma inflamação crônica, que pode induzir alterações celulares e danos no DNA, potencialmente levando à carcinogénese.

A presença de ferro e outros compostos pró-oxidantes no conteúdo dos endometriomas pode aumentar o stress oxidativo nas células ovarianas, contribuindo para mutações genéticas e o desenvolvimento de câncer.


Alterações genéticas e epigenéticas:

Pesquisas indicam que certas mutações genéticas encontradas em células de endometriomas, como em genes ARID1A e PIK3CA, também estão presentes em células cancerosas, sugerindo uma possível progressão de benigno para maligno.

Implicações clínicas

Embora a transformação maligna dos endometriomas seja rara, a possibilidade de desenvolvimento de câncer de ovário justifica uma abordagem cautelosa no manejo dessas lesões. As mulheres com endometriomas, especialmente aquelas com outros fatores de risco para câncer de ovário, devem ser monitorizadas regularmente. A decisão de remover cirurgicamente um endometrioma deve considerar fatores como o tamanho do cisto, sintomas presentes, e a idade da paciente.

Ou seja, a relação entre endometriomas e câncer de ovário, embora ainda não completamente compreendida, é uma área importante de estudo na ginecologia oncológica. A conscientização sobre essa possível associação é crucial para a vigilância e o manejo adequado das pacientes.

O acompanhamento médico regular e a avaliação cuidadosa dos riscos são fundamentais para a prevenção e detecção precoce do câncer de ovário em mulheres com histórico de endometrioma.

Dr. Laerte Basso é ginecologista e obstetra, membro da Sociedade Brasileira de Endometriose e da Sociedade Européia de Endometriose e Doenças do Útero, e integra a equipe multidisciplinar do Instituto Eladium, em Cuiabá (MT)



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