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Opinião
Quarta - 16 de Outubro de 2024 às 00:26
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Foram divulgados pela UNICEF os números das mulheres agredidas sexualmente. Mais uma vez, essas são estatísticas lamentáveis de serem vistas, o que foi motivo de alerta como “consequências devastadoras” para as vítimas, com o pedido de “ação mundial urgente”.

Segundo o estudo, mais de 370 milhões de mulheres, ou seja, uma a cada oito, foram agredidas sexualmente ou estupradas antes de completarem 18 anos. Ao serem incluídas as formas de violência sem contato, o número de meninas e mulheres afetadas sobe para 650 milhões em todo o mundo, o que corresponde a uma a cada cinco.

A educação sempre é lembrada como a “chave” a abrir as portas para a verdadeira liberdade. A Sociologia concentra importante explicação como a capacidade de agir verdadeiramente com a própria vontade e escolhas, sem qualquer coação ou impedimento. Weber afirmava que os indivíduos tinham liberdade para agir a ponto de modificar a realidade. Já Durkheim enxergava a liberdade na perspectiva da cidadania, da razão, e da união entre pessoas. Marx fazia a junção das potencialidades humanas na vida material e espiritual, dizendo que só seria livre não quem se utiliza da força negativa para poder evitar algo, mas, sim, quem do poder positivo pode fazer valer a sua própria individualidade.

A Lei nº 11.340/2006, Lei Maria da Penha, elucida em seu artigo 8º, VIII, a necessidade de política pública de promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça e etnia. E, no inciso subsequente a importância da inclusão nos currículos escolares do tema “não violência contra as mulheres”.


É premente falar sobre cultura do estupro, machismo estrutural, racismo e misoginia, no viés da compreensão quanto à coisificação feminina. O corpo deve ser assunto escolar, para que na vida adulta as muitas violências não sejam banalizadas.

O corpo não pode ser negado, e muito menos escondido. Bell Hooks em “Ensinando a transgredir” é precisa: “(...) as pessoas entram na sala para ensinar como se apenas a mente estivesse presente, e não o corpo. Chamar a atenção para o corpo é trair o legado de repressão e negação que nos foi transmitido pelos professores que nos antecederam, em geral brancos e do sexo masculino. (...) O mundo público do ensino institucional era um local onde o corpo tinha de ser apagado, tinha de passar despercebido”.

E assim, voltando aos doloridos números do UNICEF, as adolescentes de 14 a 17 anos são as mais afetadas, segundo a estimativa. Calcula-se, ademais, que entre 240 a 310 milhões de meninos e homens, um a cada onze, tenham sofrido estupro ou abuso sexual durante a infância.

O estudo externou que nenhuma região do mundo foi poupada quanto ao número de vítimas: África Subsariana (79 milhões); Ásia Oriental e Sudeste Asiático (75 milhões); Ásia Central e Meridional (73 milhões); Europa e América do Norte (68 milhões); América Latina e Caribe (45 milhões), Norte da África e Ásia Ocidental (29 milhões); Oceania (6 milhões).

Exteriorizou-se que crianças e adolescentes possuem mais riscos de abusos e violências sexual repetidas. O desenvolvimento de transtornos pós crimes foi mostrado, com dificuldades de estabelecer relações saudáveis futuras.

Estamos vivendo a era em que a liberdade de informação tem sido enxergada como ofensa, como andar na contramão da história.

“Ela era antes uma mulher que procurava um modo, uma forma. E agora tinha o que na verdade era tão mais perfeito: era a grande liberdade de não ter modos nem formas”, Clarice Lispector.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.



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