Consequências devastadoras Foram divulgados pela UNICEF os números das mulheres agredidas sexualmente
Foram divulgados pela UNICEF os números das mulheres agredidas sexualmente. Mais uma vez, essas são estatísticas lamentáveis de serem vistas, o que foi motivo de alerta como “consequências devastadoras” para as vítimas, com o pedido de “ação mundial urgente”.
Segundo o estudo, mais de 370 milhões de mulheres, ou seja, uma a cada oito, foram agredidas sexualmente ou estupradas antes de completarem 18 anos. Ao serem incluídas as formas de violência sem contato, o número de meninas e mulheres afetadas sobe para 650 milhões em todo o mundo, o que corresponde a uma a cada cinco.
A educação sempre é lembrada como a “chave” a abrir as portas para a verdadeira liberdade. A Sociologia concentra importante explicação como a capacidade de agir verdadeiramente com a própria vontade e escolhas, sem qualquer coação ou impedimento. Weber afirmava que os indivíduos tinham liberdade para agir a ponto de modificar a realidade. Já Durkheim enxergava a liberdade na perspectiva da cidadania, da razão, e da união entre pessoas. Marx fazia a junção das potencialidades humanas na vida material e espiritual, dizendo que só seria livre não quem se utiliza da força negativa para poder evitar algo, mas, sim, quem do poder positivo pode fazer valer a sua própria individualidade.
A Lei nº 11.340/2006, Lei Maria da Penha, elucida em seu artigo 8º, VIII, a necessidade de política pública de promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça e etnia. E, no inciso subsequente a importância da inclusão nos currículos escolares do tema “não violência contra as mulheres”.
É premente falar sobre cultura do estupro, machismo estrutural, racismo e misoginia, no viés da compreensão quanto à coisificação feminina. O corpo deve ser assunto escolar, para que na vida adulta as muitas violências não sejam banalizadas.
O corpo não pode ser negado, e muito menos escondido. Bell Hooks em “Ensinando a transgredir” é precisa: “(...) as pessoas entram na sala para ensinar como se apenas a mente estivesse presente, e não o corpo. Chamar a atenção para o corpo é trair o legado de repressão e negação que nos foi transmitido pelos professores que nos antecederam, em geral brancos e do sexo masculino. (...) O mundo público do ensino institucional era um local onde o corpo tinha de ser apagado, tinha de passar despercebido”.
E assim, voltando aos doloridos números do UNICEF, as adolescentes de 14 a 17 anos são as mais afetadas, segundo a estimativa. Calcula-se, ademais, que entre 240 a 310 milhões de meninos e homens, um a cada onze, tenham sofrido estupro ou abuso sexual durante a infância.
O estudo externou que nenhuma região do mundo foi poupada quanto ao número de vítimas: África Subsariana (79 milhões); Ásia Oriental e Sudeste Asiático (75 milhões); Ásia Central e Meridional (73 milhões); Europa e América do Norte (68 milhões); América Latina e Caribe (45 milhões), Norte da África e Ásia Ocidental (29 milhões); Oceania (6 milhões).
Exteriorizou-se que crianças e adolescentes possuem mais riscos de abusos e violências sexual repetidas. O desenvolvimento de transtornos pós crimes foi mostrado, com dificuldades de estabelecer relações saudáveis futuras.
Estamos vivendo a era em que a liberdade de informação tem sido enxergada como ofensa, como andar na contramão da história.
“Ela era antes uma mulher que procurava um modo, uma forma. E agora tinha o que na verdade era tão mais perfeito: era a grande liberdade de não ter modos nem formas”, Clarice Lispector.
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.
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