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Opinião
Domingo - 06 de Outubro de 2024 às 00:10
Por: Renato de Paiva Pereira

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A disputa pela prefeitura de São Paulo desperta grande interesse em todo o País. Também pudera, a capital paulista é a mais populosa e mais rica cidade brasileira e já lançou diversos prefeitos como candidatos à Presidência da República: Fernando Haddad, Paulo Maluf, Mário Covas, José Serra, Luiza Erundina e o folclórico Jânio Quadros, que foi eleito com grande votação.

Conta ainda, para despertar e alimentar o interesse nacional, o fato de estarem lá sediados os maiores jornais do País e emissoras de rádio/tevê que cobrem todo o território nacional.

A atual campanha eleitoral naquela capital, surpreende pela baixaria e violência. O nível está tão baixo que os promotores dos debates acharam necessário parafusar as cadeiras no piso do auditório para evitar a repetição de agressões e substituir os copos de vidro por outros de plástico.

Mas houve um fato que, pelo seu significado e eloquência, poderia selar a derrota de um dos postulantes. Foi o caso do esdrúxulo Pablo Marçal que no último debate detonou o eleitorado feminino. Em sua fala ele afirma que as próprias mulheres se consideram incapacitadas para comandar uma prefeitura.


Ele disse: "Ô, Tabata (dirigindo-se à candidata oponente), se mulher votasse em mulher, você ia ganhar no primeiro turno. A mulher não vota em mulher, ela é inteligente”.

Em outra versão levemente diferente, Pablo teria dito: “a mulher que é inteligente não vota em mulher”. Se disse dessa forma, sem vírgulas, ele afirma que entre as mulheres as que são inteligentes não votariam em candidatas. Ou seja, o “que” introduz uma oração restritiva.

Se reproduzirmos a fala dele colocando duas vírgulas, fica assim: “a mulher, que é inteligente, não vota em mulheres”. Nesta versão está afirmando que todas as mulheres são inteligentes e que, por isto, por serem inteligentes, não escolhem as candidatas do mesmo sexo.

Com virgulas ou sem elas, fica assim resumido: na primeira versão ele está dizendo que existem mulheres burras e mulheres inteligentes e que estas últimas não votam nas próprias companheiras. Na segunda versão, afirma que todas as mulheres são inteligentes e por terem discernimento não votam nelas próprias. Ambas leituras são igualmente ultrajantes.

Como cerca de 52% do eleitorado é composto de mulheres, se elas resolvessem negar ao candidato o voto por serem chamadas de burras, determinariam sua derrota. Mas ao que parece – a julgar pelas pesquisas de intenção de votos feitas depois do debate - elas não ouviram a frase constrangedora ou a atribuíram a algum descuido verbal.

Não seria a primeira vez que candidatos à presidência da República desmerecem as mulheres. Donald Trump, gabando-se de ser um astro, fez pior: "Quando você é uma estrela, elas deixam. Você pode fazer qualquer coisa. Agarrá-las pela vagina. Você pode fazer qualquer coisa." (Usei a IA para traduzir a frase original).

Penso que a imprensa brasileira, onde mulheres talentosas ocupam grandes espaços, deixou muito barato a grosseira misoginia do candidato paulista.

Obs. Escrevo antes da eleição.

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.



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