Leve seus documentos pessoais. A advocacia na era da inteligência artificial é um caminho sem volta?
A pandemia de Covid-19 trouxe mudanças profundas na forma como trabalhamos e nos relacionamos com a tecnologia. Entre os profissionais que mais sentiram esse impacto estão os advogados, muitos dos quais migraram para o home office em busca de segurança e flexibilidade. Esse modelo não apenas se consolidou, mas também revelou novos horizontes, especialmente com o apoio da inteligência artificial (IA).
De acordo com um estudo recente da OAB, 43% dos advogados já trabalham remotamente, sendo que entre os autônomos esse número sobe para 51%. O que impulsionou essa transição? Certamente, a IA desempenhou um papel central, permitindo que advogados atuem além das barreiras geográficas, captando clientes em outras cidades e estados sem sair de casa.
Este mês, o Conselho Federal da OAB deu um passo importante ao aprovar recomendações para o uso ético e responsável da IA generativa na prática jurídica. A ideia é garantir que essas tecnologias sejam ferramentas a serviço da advocacia, sem comprometer princípios fundamentais ou a qualidade do trabalho.
Nos Tribunais, a automação já é uma realidade. O STJ, por exemplo, usa o sistema Athos para identificar processos repetitivos, enquanto o STF conta com o sistema Victor para triagem de recursos. Essas inovações trazem agilidade ao Judiciário, mas levantam a questão: até onde a tecnologia pode substituir o olhar humano?
Como bem pontuou o ministro Luís Roberto Barroso, a IA pode ser valiosa para a Justiça, mas nunca substituirá a sensibilidade de um juiz. As máquinas não possuem consciência, não discernem o justo do injusto, o certo do errado. Por isso, o uso da IA deve ser ponderado, liberando profissionais das tarefas repetitivas sem abrir mão da análise crítica e interpretativa que o Direito exige.
A tecnologia também já trouxe avanços práticos para a classe. Um exemplo claro foi a adoção do voto online nas eleições da OAB, permitindo que mais advogados participassem do processo democrático sem precisar sair do escritório.
Mais do que nunca, o momento exige adaptação. A inclusão da IA na rotina da advocacia simplifica processos, elimina tarefas burocráticas e dá ao advogado mais tempo para se dedicar ao que realmente importa: construir estratégias, interpretar a lei e oferecer um atendimento de excelência.
O futuro da advocacia não está em competir com a tecnologia, mas em usá-la como aliada. Cabe a nós, profissionais do Direito, explorar essas ferramentas sem medo de perder espaço, mas com a certeza de que o que nos torna indispensáveis é, acima de tudo, a nossa capacidade de pensar, sentir e interpretar o mundo ao nosso redor.
Regiane Freire é advogada especialista em Direito Civil e Processo Civil.
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