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Opinião
Sábado - 30 de Novembro de 2024 às 00:50
Por: Marcelo Augusto Portocarrero

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Tempos atrás, quando eu ainda era criança, imaginem só, hoje completo 71 anos, Boneca Teresa era como diziam as pessoas mais velhas ao ouvirem algo que já era de seu conhecimento.

Não sei qual a origem do termo; apenas suponho que esteja relacionado ao que ele mesmo sugere: uma boneca, talvez se referindo à dona do nome, a tal Tereza, alguém que tivesse a língua comprida na época do Amigo da Onça (*), lá pelas bandas de onde Judas perdeu as botas (**).

Pois bem, esta era a forma como meu sogro, o Cel. Octayde, com refinado sarcasmo, se referia a um assunto que lhe trouxessem e que já era de seu conhecimento devido às fofocas dos corredores da Escola Técnica Federal de Mato Grosso, ou seja, um desatino qualquer mais recente, e mesmo por nós, da família, quando, assim, propositalmente, provocávamos sua famosa verve. Raras vezes era possível vê-lo sorrir; esta era uma delas, mesmo que apenas por um dos cantos da boca, ao sapecar seu ressoante… Boneca Tereza.

Da mesma forma, se algo era ainda mais antigo, anterior mesmo, de alguns anos passados, a ironia vinha através de um desconcertante: “Kennedy morreu, você não sabia?” Desta feita, referindo-se ao assassinato do presidente dos Estados Unidos, evento ocorrido em 1963, transmitindo assim ao interlocutor a mensagem de que a informação já era mais do que conhecida, velha mesmo.


Esses momentos, poucos conhecidos de sua personalidade, aconteciam em ambiente familiar ou, quando muito, na presença de amigos e, talvez, no ambiente de trabalho em uma ou outra ocasião de descontração.

Certo é que frequentemente acontecia aos finais de semana, quando os dias ficavam mais longos, geralmente após o almoço, já no torpor das acaloradas tardes e sob a varanda rodeada de mangueiras, quando a família se reunia para prosear descontraidamente. Naquelas ocasiões, era costume haver zombarias sobre os fatos ocorridos durante a semana finda, quando, então, ele externalizava o que tinha de pitoresco.

Hoje mesmo, a fofoca continua correndo solta como dantes, principalmente no que se refere à política nacional. A cada dia que passa — e olha que são dias pra dedéu, tanto que viraram semanas, meses e anos, ou seja, há bastante tempo —, período para ninguém botar defeito, estão prendendo o ex e último presidente da República.

O circo que está sendo montado para justificar a injustiça é tão ridículo, bisonho mesmo, que a trama sinistra, uma peça teatral ou ópera-bufa, tanto faz, já virou até chacota na imprensa mundial.

Parafraseando o inesquecível coronel: “Avisem a Boneca Tereza que Kennedy morreu!”

(*) Quem criou a expressão “Amigo da Onça” foi o cartunista Péricles Maranhão, na década de 40, para caracterizar um personagem malandro e irônico, inspirado em uma história folclórica sobre dois caçadores que se defrontaram com uma onça. Ao escaparem da fera, um deles disse ao parceiro que ele não deveria ter conseguido fugir, ao que o outro responde: “Epa, … você é meu amigo ou da onça?”

(**) Diz a lenda que Judas Iscariotes, após receber as trinta moedas de ouro ganhas pela traição a Jesus e antes de se suicidar descalço, teria colocado as mesmas em suas botas e escondido tudo em um local ermo, mas tão ermo que nunca foi encontrado.

Marcelo Augusto Portocarrero é engenheiro civil.



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