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Opinião
Quarta - 11 de Dezembro de 2024 às 00:13
Por: Renato de Paiva Pereira

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Será que as pessoas estão certas quando dizem que os políticos são contumazes espertalhões ou há nessa certeza uma generalização injusta?

O noticiário e as redes sociais amplificam os desvios éticos deles

O primeiro e necessário reparo é que todos, antes de se tornarem políticos, são pessoas normais - servidores públicos, empresários, profissionais liberais, prestadores de serviço, trabalhadores privados, etc. - portanto, sua formação ética antecede o exercício da política.

Assim, se agem fraudulentamente quando ocupam cargos públicos, suspeita-se que este vício não foi adquirido depois da eleição, mas já estava latente esperando ocasião propícia para se manifestar.

Se esta suposição estiver certa, então os políticos não são mais desonestos que a média da sociedade, posto que saíram do seio dela. Mas, então, por que nós os consideramos mais desonestos que as demais pessoas?


Uma explicação possível é que os políticos, devido ao seu status e exposição pública, têm seus atos mais analisados. O noticiário e as redes sociais amplificam os desvios éticos deles, criando a impressão de que os casos de corrupção e má conduta são mais comuns nesse grupo do que em outros da sociedade.

Deslizes e safadezas em ambientes privados, por exemplo, passam frequentemente despercebidos do grande público ou recebem menos atenção. Nos políticos, eles, embora pouco punidos, aparecem mais, reforçando a percepção de que são transgressores recorrentes.

Mas há ainda outra possível explicação: é inegável que a política oferece um ambiente propício para práticas antiéticas. O acesso a grandes volumes de dinheiro público, a confusão de leis que ajuda a impunidade, a dificuldade de fiscalização em algumas áreas, criam ocasiões favoráveis para abusos.

Outro dado que alimenta essa percepção de que os nossos representantes são mais dados aos malfeitos é a sensação de impunidade em relação aos crimes de elite. A lentidão da justiça e as brechas das leis, permitem que muitos escapem de punições severas. Em contraste, crimes que afetam diretamente a propriedade privada são tratados com maior rigor. Isso gera a ideia de que desviar dinheiro público é menos perigoso, contribuindo para a perpetuação desse comportamento no meio político.

Há também quem afirme que a própria permissividade do meio atrai indivíduos de moral mais elástica, seduzindo os que estão dispostos a buscar riqueza e poder a qualquer custo.

A que conclusão, afinal, chegamos? O meio político é mais viciado que o privado? Os indivíduos são corrompidos pelo meio político ou entram nele porque são corruptos? No meio político há mais pessoas mal intencionadas, ou, percentualmente, se iguala ao número geral da sociedade? Pessoas comuns não estariam igualmente sujeitos aos desvios de conduta que o meio propicia? Não seria a impunidade o maior estímulo à corrupção?

A percepção de que os políticos são mais desonestos pode ser parcialmente verdadeira, mas também influenciada pela visibilidade de seus atos, pelas oportunidades inerentes ao meio e pela cultura da impunidade.

Enfim, o vício (vileza) e a virtude (honra), tal como na sociedade em geral, não estariam democraticamente distribuídos entre os políticos?

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.



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