As oportunidades de Galindo
As crises políticas que assolam Cuiabá e Várzea Grande talvez não encontrem par na história recente dos dois municípios. E geram uma espécie de fadiga em toda a Baixada Cuiabana, agora renomeada como Vale do Rio Cuiabá. A AMM demonstrou por meio de pesquisa sócio-econômica, na semana passada, que praticamente todos os municípios da região, num raio de cerca de 100 km de Cuiabá, vivem algum tipo de crise severa, em geral lastreada em problemas de desenvolvimento econômico, com baixo dinamismo, estagnação ou retrocesso.
Cuiabá, sem dúvida, exerce esse papel de liderança. Pode tanto ajudar nas soluções para a região, que compreende cerca de 1 milhão de habitantes - o que a torna no mais importante conglomerado econômico, social e cultural de Mato Grosso -, como, no sentido contrário, pode retardar os processos de recuperação e revitalização deste espaço geográfico.
A política e a economia sempre determinam os demais aspectos. Vivemos um tempo, creio, que a política, se não ajuda, não deveria atrapalhar iniciativas não governamentais e privadas. A região tem potencial, já cria uma economia em escala, o que atrai investidores, e terá no advento da Copa do Mundo uma oportunidade histórica de se reposicionar definitivamente.
É neste contexto que encontra-se o prefeito Chico Galindo. Sua presença na principal cadeira do palácio Alencastro ainda gera um certo desconforto. Afinal, Galindo ascendeu ao cargo com apenas 10 anos depois de vir para a cidade que já tem quase 300 anos. Isso significa que a política nem sempre cria relações orgânicas. Esta, definitivamente, foi inorgânica, inscrevendo-se no campo dos conchavos sob a concepção fantasiosa do ex-prefeito Wilson Santos.
Isso, no entanto, explica o passado, mas é insuficiente para nos fazer entender o presente e desenhar o futuro. O fato é que Galindo, mesmo sem ter capilaridade e base de apoio política e social próprios, é o prefeito de Cuiabá. Dele, a sociedade nunca esperou muita coisa, exatamente por praticamente nem conhecê-lo direito. Muitos acreditam que ele, ao terminar seu mandato, ponha a viola no saco e vá cantar em outra freguesia, afinal, não tem raízes aqui.
É nessa falta de expectativas e perspectivas sobre seu governo que, creio, reside a grande oportunidade de Chico Galindo. Como todos não esperam nada – ou esperam o pior -, ele tem a oportunidade, sem tanta pressão, de surpreender positivamente. Ainda mais com sua insistência em negar-se candidato a reeleição. Menos pressão ainda.
Algumas medidas amargas que talvez se façam necessárias para a cidade, somente alguém nessas condições poderia tomá-las. Um exemplo é a concessão da Sanecap. Um político com lastro e capilaridade local e com projetos políticos de curto prazo jamais tomaria a decisão de efetivar a concessão, porque o custo político seria muito alto. Criou-se um sentimento popular muito refratário a ideia de concessão ou privatização. Roberto França e Wilson Santos tentaram e depois recuaram. Este último, inclusive, já teria confidenciado a amigos mais chegados que seu grande arrependimento da vida pública foi ter feito campanha contra a “privatização da Sanecap”, quando deputado federal. Pela simples razão de ter-se tornado refém da própria língua, quando, como prefeito, tentou fazer o que houvera condenado.
Galindo já surpreende positivamente ao iniciar um processo de recomposição de sua base de apoio. Ao contrário da posição belicista e isolacionista de Santos, o atual prefeito, devagarinho e com uma diplomacia perfeita, vem costurando apoio da Câmara, dos partidos, do governo do Estado e da bancada federal. Ainda falta a base de apoio popular. Esta exige resultados práticos para acontecer - e de tempo. O programa Multiação – viabilizado por meio dessa primeira ação diplomática com Governo do Estado e Agecopa -, já começa a distencionar um pouco sua crise de popularidade ao tapar os buracos da cidade. Falta ainda acertar na saúde, que está caótica; no saneamento (o que passa pela Sanecap); e no trânsito (e as obras de mobilidade da copa farão isso).
Galindo também vem investindo em algo que Wilson não deu muita importância: a comunicação, colocando gente que entende do assunto para planejar e administrar essa difícil relação com a mídia e a opinião pública, especialmente em tempos de crise – quando mais se precisa dessa relação funcionando bem. Mas este tema ficará para a próxima semana.
Por hora, basta dizer que Galindo não tem o que perder. Mais desgastes do que os que já tem, impossível. Se der errado, todos já esperavam. Mas, se der certo, vira herói municipal com direito a busto de bronze na Praça da República.
(*) Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso e diretor do site Hipernoticias.
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