Lixo, competência e responsabilidade
O lixo tem sido, cada dia que passa, o grande problema para as cidades. Não é mais possível recolhê-lo e jogá-lo em valas ou terrenos distantes do centro urbano, como tem sido feito desde o início da urbanização. O dito progresso levou o homem a substituir a mata por plantações agrícolas e áreas de criação pecuária. O aumento da população, com sua atividade econômico-transformadora, eleva diariamente o volume dos rejeitos e amplia a sua toxidade a níveis que a Natureza não é capaz de depurar. Daí a necessidade de controlar o processo e só classificar como lixo aquilo com o que não dá para fazer mais nada de útil.
O nosso jovem país industrial sofre atualmente os impactos que os desenvolvidos enfrentaram há 30, 40 anos ou mais. Muitos deles já investiram elevadas somas e chegaram a métodos que lhes devolveram o equilíbrio ambiental. Até os anos 50/60, o Brasil era um país tipicamente agropecuário e extrativista e sua indústria apenas engatinhava sob a ótica da má vontade das metrópoles industrializadas. Não tinha o mínimo cuidado com os materiais inservíveis, que eram lançados na periferia, em encostas, erosões e em qualquer outro lugar que não cheirasse mal à população urbana. Mas, nos últimos 40 anos (na Copa do Mundo de 70, a música-tema dizia “90 milhões em ação”, fazendo alusão à população brasileira), mais que dobramos o número de habitantes – hoje 190 milhões – e somos obrigados a utilizar as áreas tomadas pelas antigas lixeiras. Exemplos mais evidente: morro do Bumba (Niterói-RJ), palco de recente tragédia, e tantas outras encostas e grotões que nossos antepassados recentes imaginavam descartáveis.
Vimos, nos últimos dias, o aterro sanitário de Itaquaquecetuba (SP) deslizar e trazer uma série nefasta de conseqüências. Até o momento em que escrevemos estas linhas, há a dúvida sobre a existência ou não de vítimas pessoais no incidente. Isso é inaceitável em qualquer ponto do país, especialmente em São Paulo que, há décadas, se classifica como a “locomotiva” (econômica) do Brasil.
Lixo é lixo. Quando nele ainda há o quê se recolher e lucrar é porque não houve a devida conceituação. Precisamos criar uma cultura nova para definir o que é o que não é lixo. Tudo o que não for lixo, deve passar pelo processo de reciclagem e continuar servindo à sociedade. O lixo, que é o “resto do resto” deve ser competentemente descartado e não despertar o interesse a ninguém, pois não deve trazer qualquer valor comercial.
Carecemos de uma política onde os municípios sejam obrigados e economicamente apoiados – pelo Estado e pela União – a dar uma destino ecologicamente correto ao lixo. A indústria, as ONGs e a própria sociedade devem ser conscientizadas minimamente para a necessidade de preservar os recursos renováveis. Jamais poderão se esquecer a frase-teoria do químico francês Antoine Lavoisier (1743-1794): “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Tudo o que for feito em contrário, com certeza, dará errado...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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