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Opinião
Sábado - 02 de Abril de 2011 às 11:34
Por: Mario Eugenio Saturno

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Ler Dom Estêvão Bettencourt é fascinante e esclarecedor. Tive a oportunidade de saber, através de seus escritos que até meados do século passado, o mais antigo fragmento manuscrito dos Evangelhos que se conhecia era o Papiro 52 (p.52). Este papiro contém os trechos de Jo 18, 31-33.37-38 e deve ter sido escrito no Egito onde foi encontrado por volta de 125. Tal papiro foi publicado pela primeira vez em 1935 por C. H. Roberts. Em conseqüência, os estudiosos puderam, e podem, afirmar com certeza que a redação do Evangelho segundo S. João se deu no fim do século I.

Roberts verificou ainda que o p52 era uma segmento de folha escrita em frente e verso, apresentava sete linhas, de caracteres nítidos. Tentando reconstituir a imagem de uma folha inteira, concluiu que cada lado da folha devia apresentar dezoito linhas, com até trinta e cinco letras, compondo 130 páginas de 21,5 x 20 cm.

Esta descoberta derrubou as teorias que datavam o quarto Evangelho no século II, como se fosse obra de um discípulo dos Apóstolos. Hoje, há quem situe a redação do quarto Evangelho ainda em época mais recuada, ou seja, por volta de 70 - o que é menos provável.

Em 1962, três arqueólogos publicaram os resultados de suas pesquisas realizadas em pequenas grutas do deserto de Qumran, a Noroeste do Mar Morto, especialmente a da gruta n.º 7 (7Q), situada à parte das demais, continha somente manuscritos gregos, sem mescla de fragmentos hebraicos. Todos eram de papiro, ao passo que nas demais grutas se achavam pergaminhos. Esses papiros era portadores de texto sobre uma só de suas faces, ou seja, pertenciam a rolos. O primeiro manuscrito (7Q1) foi identificado como Êxodo 28, 4-6, o segundo (7Q2) é, provavelmente, Baruque 6, 43b-44.

Outros dezesseis manuscritos não foram identificados até 1972 quando o papirólogo espanhol José O"Callaghan propôs as seguintes atribuições: 7Q4 seria 1 Timóteo 3, 16; 4, 1-3; 7Q5 como Marcos 6, 52-53; 7Q6¹, Marcos 4, 18; 7Q6², Atos dos Apóstolos 27,38; 7Q7, Marcos 12, 17, 7Q8, Tiago 1, 23-24; 7Q9, Romanos 5, 11-12; 7Q10, 2 Pedro 1, 15; e 7Q11, Marcos 6,48.

Nos últimos anos, há consenso dos versículos de Mc 6, 52-53, se se considerar o original grego de Marcos da maneira como os antigos escreviam, técnica Zierstil, usado durante os anos de 50 a.C. a 50 d.C. Esse pergaminho é anterior a 50 d.C., e deve ter sido escrito em outra localidade. Para corroborar esta suposição, nessa gruta 7, foi encontrado um fragmentos de um jarro com uma inscrição hebraica RWM, "de Roma".

É certo que em 68 d.C. as tais grutas foram fechadas e abandonadas pelos monges hebreus (essênios) moradores da região, quando fugiram romanos. Assim, essas propostas de O"Callaghan surpreenderam e levariam a uma revisão total das datas até então assinaladas para a redação dos escritos do Novo Testamento.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva e congregado mariano.



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