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Opinião
Sexta - 21 de Janeiro de 2011 às 14:00
Por: Dirceu Cardoso Gonçalves

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Quando chamou os técnicos do Ministério da Reforma Agrária para oferecerem subsídios ao programa de erradicação da miséria, os responsáveis pela ação levaram um susto. Ficaram sabendo que 38% das 924 mil famílias instaladas em assentamentos da reforma agrária não conseguem obter rendimento de um salário mínimo mensal. Descobriram também que 58% dos assentamentos têm péssimas estradas de acesso, o que dificulta o escoamento de qualquer tipo de produção agrícola, e que 56% não contam com redes de energia elétrica. E ainda que, em termos de escolaridade, não há nada para se comemorar: apenas 5% dos agricultores assentados têm ensino médio completo.

Logo, o novo governo, supostamente mais consciente e menos populista do que o anterior, está inclinado a crer na impropriedade da reforma agrária politizada onde radicais de direita classificam os seus promotores como “comunistas” e os executores são irresponsáveis a ponto de levar para baixo da lona preta e ceder áreas a indivíduos que nunca tiveram nada a ver com a terra e nem dela pretendem viver. Isso é muito bom, pois dá um pouco mais de sustentabilidade a um programa, que poderá ter bons frutos se tratado de forma séria e honesta.

A economia brasileira foi constituída, inicialmente, pela iníqua mão escrava. Com a abolição da escravatura (que acabou por derrubar o já cambaleante império), os produtores valeram-se dos imigrantes. Nos primeiros anos do século passado, surgiu e prosperou a indústria e, com ela, a diversificação econômica. Nas décadas seguintes, com o florescer industrial e a falta de apoio à agricultura, ocorreu o êxodo rural, levando para as capitais e grandes centros milhares de habitantes que não tinham mais como viver do campo ou simplesmente buscavam na cidade melhores condições de vida.

Depois do “booom” industrial e da certeza de que não havia, na cidade, espaço para tantos que migraram do campo, os próprios governos iniciaram timidamente os processos de reforma agrária. Foi aí que uma horda de politiqueiros apoderou-se do tema e começou a forçar pelo assentamento de quem nunca teve afinidade com o meio rural. Irresponsavelmente, os governos e governantes foram tolerantes com essa distorção e o resultado está aí, à disposição para quem quiser ver. Fracasso absoluto e (o pior) a existência de milhares de despreparados que, por força dos ditos movimentos sociais, deixaram suas casas e ocupações na cidade e foram habitar debaixo da lona na esperança de abiscoitar um pedaço de terra com o qual não sabem, ao certo, o que fazer.

A presidente Dilma Rousseff e sua equipe devem (e precisam) separar o joio do trigo. A primeira tarefa é saber quais, dos postulantes, realmente quer terra e tem condições de nela sobreviver, para em seguida apoiá-los em tudo o que precisarem. E, identificando os embusteiros, colocá-los em seus devidos lugares. Só um trabalho do gênero poderá devolver a seriedade e salvar a desacreditada reforma agrária brasileira.


Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

aspomilpm@terra.com.br  



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