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Insensibilidade, dor e a reprise
Do frio para o calor, e em meio a este, as chuvas. Águas que arrastam sonhos e levam os pertences, e junto com os móveis, vidas se vão. Vão para nunca mais voltar. A não ser nas imagens, as quais, entrelaçadas, formam cenas do mesmo filme ou de telejornais. Todo início do ano, pessoas se vêem entre os escombros, e, diante destes, a insensibilidade das autoridades brasileiras.
Acontece, no entanto, que essa insensibilidade não é tema de discussão. Muito menos de programas televisivos. Também são poucas as vozes que fazem menção a falta de ação preventiva, capaz de diminuir o impacto ou a área de destruição causada pelas chuvas. Talvez, por isso, os governantes se sentem confortáveis. Tanto que, sequer, falam do que não fizeram ou deixaram de fazer. Escondem, portanto, a própria culpa.
Desculpas que não farão ressuscitar os mortos, nem diminuirão a dor das perdas. Mas, sem dúvida, ajudariam o país enormemente. Sobretudo no aspecto democrático. Regime que tem como um dos princípios basilares a responsabilidade dos chefes do Executivo. Responsabilidade que diz respeito não apenas ao bônus de algo que deu certo, mas igualmente do ônus de medidas inadequadas ou da ausência de políticas públicas. Afinal, democracia pressupõe levar em consideração os desejos.
Desejos não só das elites. Mas, igualmente, de quem foi abandonado pela sorte, e, por conta disso, tiveram que erguer suas moradias em áreas de risco, ou de construírem suas casas agarradas aos morros, sem quaisquer garantias de segurança.
Segurança que, recentemente, foi bastante badalada. E não sem razão. Pois o poder público, na cidade do Rio de Janeiro, retomava o controle de regiões dominadas pelos bandidos.
Os programas televisivos, radiofônicos e os espaços da imprensa não economizaram palavras de enaltecimento do governador Sérgio Cabral. Realçaram da mesma forma a contribuição do presidente da República. Tarefa que não se pode ignorar, nem subtrair. Ainda que se tenha ciência de que a supremacia dos bandos do narcotráfico ocorreu com a anuência dos poderes constituídos. Isso vem de muitíssimo tempo, e se fez presente, inclusive, na gestão do atual governador.
Essa situação, a de conivência, contudo, foi esquecida. Só era lembrada a ação de retomada. Nunca os desacertos ou as brechas dos poderes.
Tal como agora, só vêem as promessas e a solidariedade. Até o sobrevôo da presidente sobre as áreas afetadas pelas chuvas – que quase nada significou, do ponto de vista prático – foi exaltado. Faltou a pirotecnia do marketing. Bastante frequente na gestão Lula da Silva. Em “compensação”, vê-se a supervalorização do discurso governamental.
Blábláblá. Nada mais! Mesmo que se tem a aquisição de terrenos para a construção de casas destinadas aos desabrigados. Construção que se dará sobre os escombros e perdas. Ainda que as perdas jamais sejam encobertas. Nem por concreto. Pois os escombros de hoje, diante da insensibilidade das autoridades, se farão presente no ano que vem, assim como fizeram em 2010, em 2009, etc.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Acontece, no entanto, que essa insensibilidade não é tema de discussão. Muito menos de programas televisivos. Também são poucas as vozes que fazem menção a falta de ação preventiva, capaz de diminuir o impacto ou a área de destruição causada pelas chuvas. Talvez, por isso, os governantes se sentem confortáveis. Tanto que, sequer, falam do que não fizeram ou deixaram de fazer. Escondem, portanto, a própria culpa.
Desculpas que não farão ressuscitar os mortos, nem diminuirão a dor das perdas. Mas, sem dúvida, ajudariam o país enormemente. Sobretudo no aspecto democrático. Regime que tem como um dos princípios basilares a responsabilidade dos chefes do Executivo. Responsabilidade que diz respeito não apenas ao bônus de algo que deu certo, mas igualmente do ônus de medidas inadequadas ou da ausência de políticas públicas. Afinal, democracia pressupõe levar em consideração os desejos.
Desejos não só das elites. Mas, igualmente, de quem foi abandonado pela sorte, e, por conta disso, tiveram que erguer suas moradias em áreas de risco, ou de construírem suas casas agarradas aos morros, sem quaisquer garantias de segurança.
Segurança que, recentemente, foi bastante badalada. E não sem razão. Pois o poder público, na cidade do Rio de Janeiro, retomava o controle de regiões dominadas pelos bandidos.
Os programas televisivos, radiofônicos e os espaços da imprensa não economizaram palavras de enaltecimento do governador Sérgio Cabral. Realçaram da mesma forma a contribuição do presidente da República. Tarefa que não se pode ignorar, nem subtrair. Ainda que se tenha ciência de que a supremacia dos bandos do narcotráfico ocorreu com a anuência dos poderes constituídos. Isso vem de muitíssimo tempo, e se fez presente, inclusive, na gestão do atual governador.
Essa situação, a de conivência, contudo, foi esquecida. Só era lembrada a ação de retomada. Nunca os desacertos ou as brechas dos poderes.
Tal como agora, só vêem as promessas e a solidariedade. Até o sobrevôo da presidente sobre as áreas afetadas pelas chuvas – que quase nada significou, do ponto de vista prático – foi exaltado. Faltou a pirotecnia do marketing. Bastante frequente na gestão Lula da Silva. Em “compensação”, vê-se a supervalorização do discurso governamental.
Blábláblá. Nada mais! Mesmo que se tem a aquisição de terrenos para a construção de casas destinadas aos desabrigados. Construção que se dará sobre os escombros e perdas. Ainda que as perdas jamais sejam encobertas. Nem por concreto. Pois os escombros de hoje, diante da insensibilidade das autoridades, se farão presente no ano que vem, assim como fizeram em 2010, em 2009, etc.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/779/visualizar/
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