Os cargos na administração e a moralidade
Ao discutir e brigar, como ave de rapina, pelo loteamento dos cargos na administração, a classe política brasileira, inclusive os governantes, joga na lata do lixo seu prestígio e o compromisso com a causa pública. E sua reputação marcha para o esgoto. Criados com a finalidade de servir à administração e atrair temporariamente ao serviço público as inteligências que possam contribuir para o bom desempenho da máquina através de seus conhecimentos e experiência, os postos de livre nomeação e até as chefias - que deveriam ser exercidas pelos funcionários mais experientes e capacitados - transformaram-se na mais reles e perversa moeda de troca política. Em vez dos capacitados, são nomeados aqueles que têm QI (quem indica), mesmo em sendo verdadeiros mentecaptos. Eis aí, uma das mais cruciais e nojentas razões da má qualidade dos serviços públicos, onde, na ponta, a sociedade padece.
A preferência por aqueles que têm padrinhos fortes é coisa antiga. Mas, ultimamente, perdeu-se toda a compostura. Todo começo de governo é instalado o malfazejo balcão de negócios onde os governantes, cedem os cargos de sua responsabilidade aos que, independente da qualificação, vêm bafejados por deputados, senadores e vereadores dispostos a fazer parte da podre bancada do “amém”. Nesse jogo, o povo perde duas vezes: a primeira, ao ver os cargos dos órgãos públicos na maioria das vezes exercidos por incapacitados; e a segunda, quando os parlamentares que nomearam sua cupinchada, deixam de exercer o seu dever de fiscalizar os atos do Executivo.
A prática política prostituta é tão acentuada que, nos últimos tempos, é comum o noticiário sobre partidos ou grupos rebelados porque na inaceitável partilha não lhes foi atribuído esse ou aquele cargo no Executivo. Há, até casos, em que os indicados se dão ao direito de cobrar seus padrinhos e com eles brigar quando o resultado não correspondeu à promessa ou encomenda. Descaradamente, em algumas localidades, a desinteligência chegou até às barras da polícia e da justiça.
O “mercadão” de cargos só não é penalizado como corrupção política porque, no Brasil, são seus próprios operadores os encarregados de fazer as leis. Mas quem se dispuser a agarrar um dicionário e procurar o significado de suborno, extorsão, fisiologismo, nepotismo, clientelismo e outros termos do gênero, facilmente verificará que a prática, sem qualquer dúvida, esbarra no Código Penal.
A jovem democracia brasileira deu, no ano passado, exemplo de maturidade ao impor, pela via popular, a tramitação e aprovação da Lei da Ficha Limpa que, apesar das limitações, já retirou da cena política nacional, figuras de alto relevo, que se encontravam comprometidas. Não é demais sugerir que aquelas mesmas forças populares se unam e também consigam fazer passar e vigorar uma legislação mais específica que coloque um fim ao nefasto mercado de influência, cargos públicos e votos parlamentares. Acabar com essa pratica é uma tarefa patriótica e humanitária. Pode até salvar a hoje combalida dignidade da classe política nacional...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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