A harmonização da economia
Uma série de fatores conjunturais – a proximidade com os centros do poder e a disponibilidade de matéria-prima, principalmente o aço de Volta Redonda – fizeram com que o desenvolvimento industrial do Brasil começasse pelo eixo Rio-São Paulo. Durante um século, ou mais, os investimentos da área se concentraram na região Sudeste e os sucessivos governos, acossados principalmente por crises político-institucionais, jogo de interesses e cegueira estratégica, pouco ou nada fizeram para evitar a hoje indesejável concentração. Foi preciso que as demais regiões ganhassem força e, num inconveniente processo colonialista, começassem a disputar investimentos com a dita região “industrializada”. Não havia, entre as inteligências nacionais, o conceito de que todas as regiões devem desenvolver seu potencial produtivo e, em conjunto, auferir os benefícios do desenvolvimento.
Por conta da política canhestra e incompetente, estabeleceu-se a guerra fiscal, a disputa por industrialização e outros processos que levaram muitos ao insucesso. São Paulo foi, por muitos anos, acusada Brasil afora de impor seus manufaturados mas não adquirir a preços compatíveis as matérias primas das demais unidades da federação. Suas autoridades e capitães de indústrias nem sempre tiveram sensibilidade para entender essa distorção, e a “guerra” foi inevitável. Empresas migraram para outros estados em busca de terrenos, instalações e impostos subsidiados, e ainda há a inaceitável diferenciação nas alíquotas dos tributos, especialmente ao ICMS (Impostos sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
O “imperialista” São Paulo passou a sofrer a concorrência sistemática dos demais estados e, mais recentemente, do contrabando vindo do não bem explicado mercado livre do Paraguai, que se serve das vias brasileiras e paulistas para receber as mercadorias importadas e depois as reintroduz no Brasil via contrabando. Nos últimos anos, da China. que pratica preços baixos porque tem sistema atrasado de produção. Empresas daqui deixaram de produzir localmente, montaram instalações em território chinês e trazem para o consumidor brasileiro as mercadorias produzidas com mão-de-obra semi-escrava daquele país. E os cínicos empresários sonegam essa informação e ainda se dão ao luxo de ficar irritados quando algum jornalista curioso deles se aproxima para falar sobre o assunto. Algo de concreto tem de ser feito para mudar esse inaceitável quadro perverso.
No início da indústria automobilística – década de 50 –, o eixo Rio-São Paulo chegou a ter a totalidade dos empreendimentos do setor. Depois, apoiados na guerra fiscal, outros estados abocanharam parte do setor e São Paulo ficou com apenas 45%. Agora, segundo a imprensa, volta a ter 50%. Isso ocorreu, também, em outros setores da indústria. Seria interessante que o novo governo eliminasse de vez a guerra fiscal e, principalmente, adotasse medidas enérgicas em relação ao comercio ilegal do Paraguai e ao “dumping” chinês. Como um grande mercado, o Brasil não pode ter disputa fiscal regional predatória e deve proteger-se do ataques além-fronteiras. Há de encontrar o equilíbrio econômico para que todas as regiões e, principalmente, a população do país inteiro, se beneficiem da industrialização, independente do local onde estejam instaladas as indústrias.
Não podemos nos esquecer de que a economia nacional só é a oitava do mundo porque esse país tem uma classe empresarial empreendedora e, em momentos corretos, os governos apoiaram o setor. Temos tudo para consolidar a situação econômica de liderança mundial. Precisamos, agora, reduzir as desigualdades regionais e, especialmente, promover a distribuição de renda mais justa possível junto à população. E, dois ítens importantes devem ser estudados e colocados nos seus devidos lugares: o Paraguai e a China... A pirataria, o contrabando e o descaminho sufocam a economia brasileira e têm de acabar...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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