A utilidade da biografia dos líderes
Morreu Orestes Quércia. E com sua morte, a política nacional perde um importante personagem. Sem os arroubos de Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Leonel Brizola e outros, o ex-governador paulista foi peça tão importante quanto eles no tabuleiro político estadual e nacional, durante as últimas quatro décadas. Colecionou seguidores e adversários e, até o fim, manteve-se influente, mesmo tendo perdido as últimas eleições que disputou, para presidente, governador e senador. Seus seguidores tinham como certa sua vitória para o Senado, em 2010, mas a doença não permitiu e ele próprio, num gesto raro e peculiar, abriu mão em favor do companheiro de chapa, Aloysio Nunes Ferreira.
Obstinado, o menino nascido e crescido em Pedregulho (SP) foi fazer vida em Campinas, onde se fez vereador, deputado estadual e prefeito. Ainda vereador, não teve dúvida em alinhar-se à oposição, no MDB, quando o governo militar extinguiu os partidos e instituiu o bipartidarismo. Como prefeito, seu nome começou a ganhar projeção estadual e até nacional e, somado a uma série de fatores de época, garantiu sua eleição ao Senado, em 1974, quando o povo teve a coragem de votar em massa contra o autoritarismo. Àquela altura já era um líder e fixou suas bases no interior.
Com atuação discreta e firme, Orestes Quércia enfrentou o regime militar sem criar grandes polêmicas. Legislou e administrou com tino e fez política em todos os momentos, contribuindo para a reconstrução da democracia brasileira de que hoje desfrutamos. Deixou-nos na véspera do Natal.
E, durante este período de festas, o brasileiro também acompanha o drama e a tenacidade do vice-presidente José Alencar. Depois de uma sobrevida de mais de 10 anos em que padece de um câncer no abdome, envolvendo 17 cirurgias e muitos procedimentos médicos, o mineirinho permanece vivo e com o desejo de descer a rampa junto com o presidente Lula para, assim, dar por encerrada a sua missão com a pátria e o povo. É um grande exemplo de vida, força e determinação que, independente do desfecho, ficará para todos nós.
A perda de um líder é, sempre, um prejuízo para a comunidade. Durante a vida, esses indivíduos fazem a diferença e, muitas vezes, colocam em segundo plano seus próprios interesses para serviu ao coletivo, independentemente do regime político ou do momento vivido.
No Brasil, vivemos os dias de troca de comando na União e nos Estados e a substituição dos membros das casas legislativas – exceção apenas do Senado, que renova dois terços. Seria muito importante que a presidente Dilma, os novos governadores, seus ministros e secretários e todo os parlamentares reservassem pelo menos alguns minutos de seu tempo para ler a biografia dos antecessores, sem preocupação ideológica ou partidária. Certamente, ali, encontrariam solução para a maioria dos problemas que terão pela frente. Bastaria adotar o que deu certo, afastar-se do que deu errado e colocar tudo no contexto atual...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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