Sucessão antes do governo
A sucessão do governador Silval Barbosa começou antes de seu governo. As primeiras manifestações desta nova disputa surgem já no tabuleiro da indicação dos novos secretários, que deverão assumir em janeiro. Isto inverte a lógica das nomeações: em vez de focar-se na governabilidade e no cumprimento dos compromissos sociais estabelecidos durante a campanha, mira-se na conquista do poder nas próximas eleições.
Não há conquista de poder sem disputa. E quando a disputa pela nova eleição guia os principais interesses do governo que ainda vai começar, a conseqüência mais provável é que o governo sofra um efeito gangorra permanente, pendendo a cada momento para o lado que conseguir exercer mais força, pressão.
Seria ingenuidade pensar que há exercício de poder sem um intrincado e empedernido choque de interesses dos grupos que o compõem, a chamada correlação de forças. E tenho reiterado aqui deste espaço que a chave para se compreender a política é basicamente observar a conjuntura (o tempo histórico, as circunstâncias) e a correlação de forças (a interação entre os pesos de cada grupo ou personagens a cada momento). Logo, é natural que em qualquer espaço de poder haja disputa. E as disputas levam inevitavelmente à crise.
A questão é que algumas disputas de poder – e, por conseqüência, algumas crises – podem ser evitadas, e normalmente não deveriam ser antecipadas. No dito popular, cada coisa a seu tempo. Há outra palavra sobre a prevenção de crises: deve-se antecipar-se a elas, não antecipá-las. Parece a mesma coisa, mas na prática possuem significados bastante diferentes.
Esta pode ser a confusão que ocorre no momento em Mato Grosso. O secretariado já anunciado pelo governador Silval Barbosa pode ser analisado mais facilmente pela ótica da sua sucessão do que pela égide da sua governabilidade. Pode não ter sido esta a intenção, mas conduz nesta direção.
O PR está com espaço demais, sobrepondo-se ao PMDB, partido do governador. E não é só numericamente, mas qualitativamente. Sefaz, Casa Civil e Sinfra são certamente as três principais secretarias e estão todas com o PR. A supremacia do PR sobre o PMDB também se deu na convocação de dois deputados para secretarias, o que leva para a Assembléia dois suplentes do PR - aumentando sua bancada. Se o PR está sobrando, o PMDB está faltando, e também o PP e o PT, sem falar nos pequenos partidos da chamada Frentona.
PP e PT vivem problemas internos para o preenchimento dos minguados espaços que lhe couberam. No caso do PT, a crise interna está no seu ápice, o que resulta na permanência de uma figura apática na Educação, sem tamanho técnico nem político.
Já no PP a coisa é diferente, porque o partido tem dois caciques que não querem dividir seus espaços com o vice-governador, e começam a fritá-lo antes mesmo da posse ao tentarem impor Eliene Lima no lugar de Chico Daltro na Secitec. A rigor, tanto Pedro Henry como José Riva – que comanda Eliene – tentarão se viabilizar para cargos majoritários em 2014, e temem que Chico tenha com Silval o mesmo tamanho que este teve com Blairo Maggi.
Pela lógica da sucessão fica mais fácil compreender a formação do secretariado e as disputas e crises geradas por ela. Talvez isto ocorra pelo fato de Silval não poder disputar a reeleição. Mas representa um risco real à governabilidade, sobretudo ao se levar em conta que no meio de tantos caciques Silval terá que pedir licença para falar com muitos secretários, quebra de hierarquia que será potencializada pela incompetência da Casa Civil em fazer a articulação interna e lidar com tantas raposas e leões da política mato-grossense.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br
“Antecipar-se às crises significa prevenir-se a elas, e não antecipá-las. A sucessão de Silval não pode começar antes de começar o seu governo”
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