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Opinião
Quarta - 22 de Dezembro de 2010 às 08:40
Por: Dirceu Cardoso Gonçalves

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Depois da fracassada tentativa do Proálcool, dos anos 70, o Brasil deu a volta por cima e, com o desenvolvimento da tecnologia “flex”, fez do álcool um importante substituto da gasolina. Os motores bicombustível revelaram-se eficientes e hoje já compõe a quase totalidade da produção da indústria automobilística nacional. Com eles, o automóvel anda tão bem – algumas vezes até melhor – do que com gasolina e com vantagem econômica se o álcool custar até 70% do cobrado pelo derivado do petróleo.

Mas, apesar de toda sua eficiência técnica, o álcool combustível ainda traz dificuldades ao consumidor por falta de uma política estabilizadora de preços. O governo, que deu incentivos e subsídios para a montagem do grande parque alcooleiro, não tem sido capaz de controlar o setor, e deixa o consumidor à mercê dos interesses dos produtores. Todos os anos, estes forçam a alta do produto sob o argumento de entresafra e por fatores conjunturais como a alta dos preços do açúcar no mercado externo, que torna mais vantajoso direcionar a cana para a produção do alimento em prejuízo para o fornecimento do combustível dito “verde”.

Levantamento realizado entre os últimos dias 12 e 18 revela que, pelos preços atualmente praticados, abastecer com álcool é vantajoso em apenas seis dos 27 estados brasileiros. Isso com a agravante de que, com o preço inflado, o álcool também força para cima o custo da gasolina, que sofre adição de 20 a 25% do produto, como estabilizante, no lugar do chumbo tetraetila, hoje banido por motivação ambiental.

Como operador e regulador do mercado, o governo tem o dever de controlar o setor. Não pode continuar deixando o dono de automóvel exposto à voracidade do cartel produtor que visa, principalmente, o lucro. O setor energético é estratégico e, como tal, precisa sofrer o controle estatal para poder garantir fluidez aos demais ramos da economia, que dele dependem.

Da mesma forma que impõe ao consumidor brasileiro a gasolina a um dos mais altos preços do mundo e carreia os recursos para a prospecção de petróleo, o subsídio ao diesel e a outros setores da matriz energética, o governo tem a obrigação de garantir o abastecimento do álcool a preço justo. Não pode ficar apenas com a “verdade” dos usineiros e a crença de que há uma entresafra com escassez e alta de preço do produto. A formação de estoques reguladores é um dos mais clássicos meios de combater a sazonalidade e a alta desenfreada de preços. Como grande controlador, o governo brasileiro, que “inventou” o carro a álcool, tem de garantir o seu abastecimento a preços compatíveis durante o ano todo.

O usineiro é peça importante de toda a estrutura, mas não mais importante que o consumidor. A busca desse equilíbrio é uma das grandes tarefas que todo o país espera do governo que assume nos próximos dias.


Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

aspomilpm@terra.com.br 



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